Amor, Ordem & Progresso
Jards Macalé (2003)
Crítica
Cotação:
Difícil (errado, mesmo) seria classificar um disco como Amor, Ordem e Progresso como obra de um artista “maldito”. Tendo carregado a pecha durante décadas, Jards Macalé não merece ser categorizado com tamanho preconceito. Trata-se sim de um artista de méritos singulares, que pratica uma MPB sofisticada e inteligente. Só quem ainda confunde personalidade com “maldição” é que pode ter na cabeça essa visão de Macalé como maldito. A singularidade já citada aqui se manifesta no estilo de interpretar, visto que o álbum novo é basicamente um disco de releituras (até mesmo de sua própria lavra, visto que incluiu quatro composições suas). Estripando excessos estilísticos e ficando só na seara do samba, Macalé construiu uma obra de arranjos singelos, econômicos, nos quais sua voz e entonação únicos ficam ainda mais destacados. Mas, de novo, tudo sem excessos: afinal, é um disco que fala acima de tudo do amor e do afeto. Violão e voz à frente, poucos (algumas guitarras, baixo acústico, percussão discreta) instrumentos e uma produção enxuta de Moacyr Luz foi tudo o que Macalé precisou para soltar um trabalho maduro — sem esquisitices além de suas idiossicrasias naturais. Se toda a “maldição” da MPB atual fosse essa, estariamos bem.
Chega a espantar a aparente delicadeza com a qual clássicos primevos como Positivismo e Por Causa Dessa Cabocla são relidos, de modo dolente, suave. Mas na interpretação de Macalé ainda reside a contundência de antes. Ainda que contida, a personalíssima voz do cantor confere novidade a peças batidas como Consolação, Manhã de Carnaval. E mais do que tudo em momentos menos óbvios, como na bossa nova oculta de Jobim/Mendonça (Foi a Noite) ou no resgate do Samba da Pergunta. Ainda que alguns possam sentir saudade das versões originais de suas composições próprias, como Meu Amor me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata, as revisões 2003 de suas canções cairam bem no contexto acima de tudo amoroso do novo álbum. Afinal, Macalé também trata com amor sua própria prole. (Marco Antonio Barbosa)
Chega a espantar a aparente delicadeza com a qual clássicos primevos como Positivismo e Por Causa Dessa Cabocla são relidos, de modo dolente, suave. Mas na interpretação de Macalé ainda reside a contundência de antes. Ainda que contida, a personalíssima voz do cantor confere novidade a peças batidas como Consolação, Manhã de Carnaval. E mais do que tudo em momentos menos óbvios, como na bossa nova oculta de Jobim/Mendonça (Foi a Noite) ou no resgate do Samba da Pergunta. Ainda que alguns possam sentir saudade das versões originais de suas composições próprias, como Meu Amor me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata, as revisões 2003 de suas canções cairam bem no contexto acima de tudo amoroso do novo álbum. Afinal, Macalé também trata com amor sua própria prole. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas