AMORES POSSÍVEIS - TRILHA SONORA DO FILME

Trilhas sonoras de filmes que viram discos normalmente só agradam a um público bem específico. Em geral, cinéfilos de carteirinha que querem eternizar as películas em casa, viajando nos climas do filme sugeridos por suas músicas. A trilha de Amores Possíveis, novo filme de Sandra Werneck que estréia até o final do mês nos cinemas, é uma colcha de retalhos - ainda que bem montada, em geral num clima cult - que não foge à regra. Traz desde gravações antigas (irresistíveis) como a disco MacArthur Park (sucesso de Jimmy Webb gravado por Donna Summer), a balada brega Me Dê Motivo (Tim Maia), a salsa Um Amor Verdadeiro (Afro Cuban All Stars) e a africana Mona Kingi Xica (Bonga), quanto diversas outras compostas especialmente para o filme por João Nabuco (mesmo que co-assinou com Ed Motta a trilha do filme anterior da cineasta, Pequeno Dicionário Amoroso ) e alguns parceiros. De lambuja, oferece uma canção esquecida de Chico Buarque, Dueto, cantada pelo próprio com Zizi Possi - o grande trunfo comercial do CD.

Com o apelo do encontro dos dois pesos pesados da MPB, Dueto abre o CD. Composta originalmente para peça O Rei de Ramos, de Dias Gomes, em 1979, Dueto foi gravada apenas por Nara Leão e mais recentemente na trilha sonora do musical Na Bagunça do Teu Coração, por Cláudia Netto e Cláudio Botelho. É uma faixa curtinha mas charmosa. Entre as inéditas, as mais interessantes são Margem da Pele (João Nabuco/ Ana Carolina/ Totonho Villeroy), com a novata Paula Lima, do grupo paulista Funk Como Le Gusta, e o funk romântico Velas e Vento, que ganhou parceria e a voz de Ana Carolina - com letra oscilante entre belas tiradas ("Mas eu sou reza forte, pau mandado/ Nem o diabo me olha de lado") e outras nem tanto (o refrão é fraco: "É, é, é... velas e vento/ É, é, é me levam pra você" e o final parece canção de motel dos anos 70: "Meu coração guarda o fogo/ Deixa o destino acender a chama/ É tarde, velas e vento/ Estradas me levam pra tua cama". Argh!). Enfim, cinéfilos podem cair de boca - relevando, é claro, as falhas típicas de trilhas sonoras, como excesso de ecletismo e alguns temas instrumentais que só funcionam na tela. (Rodrigo Faour)