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Alcione (2002)

Crítica

Cotação:

Menos de dois anos depois de lançar seu primeiro registro de show, Alcione adere à patota do disco ao vivo - a desculpa é que o trabalho anterior, Nos Bares da Vida, não era representativo de toda a carreira da Marrom. Supõe-se então que este novo seja; e o que vemos, pois? Uma cantora personalíssima, aferrada pela tradição ao samba, mas que cada vez mais pende ao dito romantismo de extração popularesca. Percebe-se que, apesar de ser vista (e considerar a si mesma) como grande dama do samba, Alcione resume sua carreira num CD que privilegia mais seu lado de cantora romântica. Sintomático ou ato falho? Não importa muito, pois a intérprete sabe emprestar dignidade e sentimento genuíno mesmo aos mais duvidosos versos. Uma aura que também escapa (mas meio chamuscada) às acusações de comercialismo óbvio que este disco ao vivo suscita.

Prefira-se a Alcione romântica ou a Alcione partideira, nenhum dos públicos da cantora tem motivo para reclamar do disco. A garganta ainda é impecável, de interpretações potentes e cristalinas, realçadas pela limpeza (excessiva, cheirando a retoque de estúdio) da gravação. Questão de preferência pessoal: para uns, a Marrom soa mais legítima no sambão romântico para valer (não, não é pagode brega, por mais que pareça) de clássicos como Sufoco ou Menino Sem Juízo. Ainda assim, a concentração do repertório está no romantismo, em especial no começo do disco, em uma seqüência de canções sufocadas por arranjos melosos - Estranha Loucura, Nem Morta, Mulher Ideal, não por acaso todas com o dedo de Michael Sullivan - e nas versões mais ou menos inspiradas de Além da Cama e Condenados. Pisando em um terreno menos, digamos, xaroposo, há mais mais consistência nos sambas Novo Endereço e Entidade (que bota as coisas em ordem com seu clima de gafieira). E principalmente no inspirado medley de Jorge Ben - mesclando Jorge da Capadócia, Take It Easy My Brother Charles, Bebete Vãobora, Que Maravilha, Cadê Tereza e Chove Chuva em ritmo de sambão jóia. Um forró (Forró do Xenhenhém) e o samba-enredo campeão de 2002 - Mangueira, claro - funcionam como cerejas decorativas num samba-sundae que não enfastia, mas poderia ter gosto menos artificial.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
O surdo (Totonho, Paulinho Rezende)

2 Estranha loucura Ouvir
(Paulo Massadas, Michael Sullivan)
3 Mulher ideal Ouvir
(Michael Sullivan, Carlos Colla)
4 O que eu faço amanhã Ouvir
(José Augusto)
7 Depois do prazer Ouvir
(Chico Roque, Sérgio Caetano)
8 Novo endereço Ouvir
(Sombrinha, Jorge Aragão)
9 Jorge da Capadócia Ouvir
(Jorge Ben)
Take it easy my brother Charles (Jorge Ben)
Bebete Vãobora (Jorge Ben)
Que maravilha (Jorge Ben, Toquinho)
Cadê Tereza (Jorge Ben)
Chove chuva (Jorge Ben)

10 Condenados Ouvir
(Fátima Guedes)
11 Além da cama Ouvir
(Michael Sullivan, Carlos Colla)
12 Meu vício é você Ouvir
(Chico Roque, Carlos Colla)
14 Menino sem juízo Ouvir
(Chico Roque, Paulinho Rezende)
Garoto maroto (Franco, Marcos Paiva)

15 Forró do xenhenhém Ouvir
(Cecéu)
16 Brazil com Z é pra cabra da peste, Brasil com S é pra nação do nordeste Ouvir
(Lequinho, Amendoim)
 
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