AO VIVO EM OLYMPIA - JOVINO SANTOS NETO QUINTETO
Jovino Santos Neto (2000)
2000
Liquid City Records (USA)
LQC 34452
Crítica
Cotação:
Depois de ter passado 15 anos tocando no grupo de Hermeto Pascoal (juntamente com Carlos Malta, Itiberê Zwarg, Marcio Bahia, Pernambuco e Fábio Pascoal, numa época em que praticavam imersão musical total, ensaiando 6 horas por dia, 5 dias por semana), o pianista Jovino Santos Neto radicou-se em Seattle (EUA), onde vive desde 1993, desenvolvendo seu trabalho solo. Lá ele criou sua própria editora, a Real Angle Music, em homenagem ao bairro carioca de Realengo, onde foi criado. Além de editar suas próprias músicas, lançou recentemente o livro Tudo É Som, uma coletânea de 32 partituras de Hermeto, recolhidas ao longo dos anos.
Neste disco, gravado em abril de 2000 em um show na cidade de Olympia (no estado de Washington, onde fica Seattle), Jovino apresenta composições próprias ao lado do seu quinteto (Harvey Wainapel, saxofones e clarineta; Chuck Deardorf, baixo; Mark Ivester, bateria e percussões; Jeff Busch, percussões). Sua música é um profícuo amálgama entre a linguagem do jazz e a filosofia de música total de Hermeto, que, como não podia deixar de ser, é uma das grandes influências de Jovino. A saudável salada de jazz com samba é servida logo na primeira faixa, Mendanha, que mistura ronco de cuíca ao suingue da clarineta de Wainapel. Em Pitombeira, o tema insistente na mesma nota e a harmonia conduzida em blocos paralelos contrastam com os solos de piano despreocupados e livres de Jovino. Tanto aí quanto nos acordes sincopados em uníssono rítmico com as percussões vê-se a mão do bruxo do Jabour agindo. A base mostra-se muito segura e entrosada, e quem for atento descobre até mesmo uma breve citação de Desafinado no solo de saxofone desta faixa.
Assim, como Hermeto, Jovino é um compositor orgânico, de levadas e ritmos espontâneos, que, se tiverem de ser grafados, correm o risco de ficar com formas e medidas de compassos pouco convencionais. É o caso de Macaé, cujo início, só no piano, mistura harmonias jazzísticas a células cíclicas que lembram compositores eruditos europeus do início do século XX. Ou ainda do ótimo Maracatrês, que, como o nome indica, é uma espécie de maracatu predominantemente em compasso 3/4, pontuado por inspirados improvisos free. Ternária também é a balada The Flowing of the Night, que, mesmo assim, não é, segundo o compositor, propriamente uma valsa. Única composição não assinada pelo pianista, o choro Intrigas no Boteco do Padilha, de Luiz Americano (1900-1960), foi incluído a pedido do clarinetista. Um exemplar clássico do gênero, com arranjo só para clarineta e piano, parece ter agradado a platéia, apesar da tentativa nem tão bem-sucedida de Jovino de traduzir o título para o inglês. Encerrando a seleção, Jujuba corrobora mais uma vez o casamento de ritmos brasileiros com os modelos do jazz. Ótima pedida para os apreciadores da boa música, o disco pode ser adquirido através do site de Jovino (www.jovisan.net), que tentará lançá-lo no Brasil em julho, quando vem se apresentar e tocar com músicos brasileiros.(Nana Vaz de Castro)
Neste disco, gravado em abril de 2000 em um show na cidade de Olympia (no estado de Washington, onde fica Seattle), Jovino apresenta composições próprias ao lado do seu quinteto (Harvey Wainapel, saxofones e clarineta; Chuck Deardorf, baixo; Mark Ivester, bateria e percussões; Jeff Busch, percussões). Sua música é um profícuo amálgama entre a linguagem do jazz e a filosofia de música total de Hermeto, que, como não podia deixar de ser, é uma das grandes influências de Jovino. A saudável salada de jazz com samba é servida logo na primeira faixa, Mendanha, que mistura ronco de cuíca ao suingue da clarineta de Wainapel. Em Pitombeira, o tema insistente na mesma nota e a harmonia conduzida em blocos paralelos contrastam com os solos de piano despreocupados e livres de Jovino. Tanto aí quanto nos acordes sincopados em uníssono rítmico com as percussões vê-se a mão do bruxo do Jabour agindo. A base mostra-se muito segura e entrosada, e quem for atento descobre até mesmo uma breve citação de Desafinado no solo de saxofone desta faixa.
Assim, como Hermeto, Jovino é um compositor orgânico, de levadas e ritmos espontâneos, que, se tiverem de ser grafados, correm o risco de ficar com formas e medidas de compassos pouco convencionais. É o caso de Macaé, cujo início, só no piano, mistura harmonias jazzísticas a células cíclicas que lembram compositores eruditos europeus do início do século XX. Ou ainda do ótimo Maracatrês, que, como o nome indica, é uma espécie de maracatu predominantemente em compasso 3/4, pontuado por inspirados improvisos free. Ternária também é a balada The Flowing of the Night, que, mesmo assim, não é, segundo o compositor, propriamente uma valsa. Única composição não assinada pelo pianista, o choro Intrigas no Boteco do Padilha, de Luiz Americano (1900-1960), foi incluído a pedido do clarinetista. Um exemplar clássico do gênero, com arranjo só para clarineta e piano, parece ter agradado a platéia, apesar da tentativa nem tão bem-sucedida de Jovino de traduzir o título para o inglês. Encerrando a seleção, Jujuba corrobora mais uma vez o casamento de ritmos brasileiros com os modelos do jazz. Ótima pedida para os apreciadores da boa música, o disco pode ser adquirido através do site de Jovino (www.jovisan.net), que tentará lançá-lo no Brasil em julho, quando vem se apresentar e tocar com músicos brasileiros.(Nana Vaz de Castro)
Faixas