ASSIM QUE SE FAZ

Não é fácil revelar uma personalidade musical bem definida aos 21 anos de idade, especialmente no caso dos intérpretes. Já ter gravado um disco solo (em 1996, pela gravadora Movieplay), além de ter tido a chance de freqüentar desde muito cedo o mercado musical por ser filha do veterano cantor Jair Rodrigues não bastou para que o segundo álbum de Luciana Mello cause o mesmo grau de surpresa provocado pela promissora estréia de seu irmão, Jairzinho Oliveira. Sem dúvida, a garota tem talento, apoiado num belo timbre de voz e evidentes recursos interpretativos. Porém, talvez por querer rejeitar a imagem inicial de cantora de samba herdada de seu disco de estréia (ou mesmo de seu pai), Luciana foi um tanto unilateral na escolha do repertório. Ela canta funk (Assim Que Se Faz) e MPB (Se..., de Djavan), mas o R&B romântico que domina boa parte das faixas do disco acaba deixando uma certa impressão de monotonia. Nada contra as oito canções assinadas por Jairzinho e Daniel Carlomagno, que já demonstraram seu know-how nos discos de Simoninha, Pedro Mariano ou do próprio Jairzinho, mas o fato é que várias delas, como Simples Desejo, Páginas Viradas, Você Tem Razão ou mesmo E Se Um Dia (versão de Nelson Motta para E Se Domani, de Carlos Alberto Rossi & Giorgio Calabrese) acabam carregando nas mesmas tintas rítmicas. Ironicamente, a homogeneidade dessas canções chama mais ainda a atenção para os dois únicos sambas que Luciana incluiu no disco: o descontraído Calados (de Jairzinho), que ela canta com muita graça e ginga, e o clássico O Mar Serenou (de Candeia), interpretado à capela, com muita segurança, tendo ao fundo ruídos de ondas do mar. Luciana provou que pode cantar outros gêneros além do samba, mas ainda precisa amadurecer. No caso de uma intérprete bem-dotada como ela, a escolha certa do repertório é o mapa da mina.(Carlos Calado)