BATUQUE
Ney Matogrosso (2001)
Crítica
Cotação:
Figura à parte do mercadão, Ney Matogrosso é um dos raros cantores da MPB que ainda correm em faixa própria e ditam suas escolhas estéticas às majors. Depois de visitar, entre outros, os repertórios de Angela Maria (Estava Escrito, 1994) e Chico Buarque (Um Brasileiro, 1996), além da nova safra autoral (Olhos de Farol, 1998), ele incursiona na seara da esfuziante Carmen Miranda, estrela que sempre foi referência para seu estilo performático de requebros e adornos. Os exageros do palco, no entanto, quase sempre aparecem filtrados em seus discos como no caso desse calibradíssimo Batuque. Nascido de um encontro entre Ney e o grupo de neochoro Nó em Pingo D’Água numa série de shows no Sesc Pompéia paulista no ano passado, este projeto acabou transcendendo a homenagem à Pequena Notável para transformar-se, com a ajuda de pesquisadores como Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, num pequeno painel de uma MPB brejeira, malandra e ingênua que vicejou entre as décadas de 20 e 40 do século passado. O fato de Carmen Miranda estar associada a este cardápio só atesta sua permeabilidade de intérprete e ícone.
Saborosamente o disco abre com a sonoridade do 78 rotações da gravação original de Gastão Formenti, de 1931, num híbrido de rumba/cateretê em primorosa fusão (mantida a mestiçagem) com a releitura moderna do megaclássico De Papo Pro Ar (Joubert de Carvalho/Olegário Mariano). Outro hino, Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu, de 1917, lançado apenas em 1931), que já serviu de veículo para o bólido vocal de Ademilde Fonseca, entra aqui numa versão mais ralentada, com destaque para a letra de Eurico Barreiros degustada pelo ex-Secos & Molhados. Autores diretamente associados a Carmen Miranda, o baiano Assis Valente de Maria Boa (1936) e ...E o Mundo Não Se Acabou (1938) e o mineiro Synval Silva de Coração e Adeus Batucada (ambos de 1935) ressurgem modernizados através do despojamento instrumental e da rigorosa escolha de timbres. Além do Nó em Pingo D’Água, o disco traz arranjos meticulosos e nada nostálgicos de Leandro Braga, Ricardo Silveira e participações de músicos de diversas áreas como o trompetista Marcio Montarroyos, o percussionista Marcos Suzano, os violões de João Lyra e Marcello Gonçalves, o trombone de Zé da Velha e o baixo de Jorge Helder. Com a leveza e a brejeirice de um Ney ao mesmo tempo solto e preciso, o CD esbanja suingue. Do Dorival Caymmi de O Que É Que a Baiana Tem? (1938) e Vatapá (1942) ao André Filho de Bamboleô (1932) e a dupla Portelo Juno e W. Falcão no precursor do sambalanço/teleco-teco dos 50/60 Samba Rasgado, de 1938, além do tema de folclore Urubu Malandro, recolhido por Louro em 1914 e posteriormente letrado por João de Barro. O único contraste é o samba-canção noir Teu Retrato (1947), um puro sangue do pós-guerra, da lavra do impagável Nelson Gonçalves (com Benjamim Baptista). Bem, mas isso já pode ser a ponta do iceberg de um novo projeto do alado Ney. (Tárik de Souza)
Saborosamente o disco abre com a sonoridade do 78 rotações da gravação original de Gastão Formenti, de 1931, num híbrido de rumba/cateretê em primorosa fusão (mantida a mestiçagem) com a releitura moderna do megaclássico De Papo Pro Ar (Joubert de Carvalho/Olegário Mariano). Outro hino, Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu, de 1917, lançado apenas em 1931), que já serviu de veículo para o bólido vocal de Ademilde Fonseca, entra aqui numa versão mais ralentada, com destaque para a letra de Eurico Barreiros degustada pelo ex-Secos & Molhados. Autores diretamente associados a Carmen Miranda, o baiano Assis Valente de Maria Boa (1936) e ...E o Mundo Não Se Acabou (1938) e o mineiro Synval Silva de Coração e Adeus Batucada (ambos de 1935) ressurgem modernizados através do despojamento instrumental e da rigorosa escolha de timbres. Além do Nó em Pingo D’Água, o disco traz arranjos meticulosos e nada nostálgicos de Leandro Braga, Ricardo Silveira e participações de músicos de diversas áreas como o trompetista Marcio Montarroyos, o percussionista Marcos Suzano, os violões de João Lyra e Marcello Gonçalves, o trombone de Zé da Velha e o baixo de Jorge Helder. Com a leveza e a brejeirice de um Ney ao mesmo tempo solto e preciso, o CD esbanja suingue. Do Dorival Caymmi de O Que É Que a Baiana Tem? (1938) e Vatapá (1942) ao André Filho de Bamboleô (1932) e a dupla Portelo Juno e W. Falcão no precursor do sambalanço/teleco-teco dos 50/60 Samba Rasgado, de 1938, além do tema de folclore Urubu Malandro, recolhido por Louro em 1914 e posteriormente letrado por João de Barro. O único contraste é o samba-canção noir Teu Retrato (1947), um puro sangue do pós-guerra, da lavra do impagável Nelson Gonçalves (com Benjamim Baptista). Bem, mas isso já pode ser a ponta do iceberg de um novo projeto do alado Ney. (Tárik de Souza)
Faixas