BEAT BELEZA

Assim como Daniela Mercury fez este ano no disco Sol da Liberdade, a ex-vocalista da Banda Eva Ivete Sangalo foi à procura de saídas para o esgotamento do axé, ao mesmo tempo em que continua a acenar para os eternos foliões de um carnaval sem época. Em seu segundo disco solo, Beat Beleza, ela atira em várias direções. Basta dizer que o CD começa com um R&B-axé, Me Deixe em Paz, versão de Can You Read My Mind, do astro americano Brian McKnight. Nessa, ela arrisca também duas faixas com o mestre do soul brasileiro, Cassiano. Balanço Black (parceria dele com Chiclete e André Fanzine) é funk-axé com nada demais - Gilberto Gil no dueto com Ivete é que faz alguma diferença. Já na jazzy Postal (gravada este ano também por Pedro Camargo Mariano), a cantora surpreende, com toda a interpretação cool que lhe é possível, e um arranjo que arrola vibrafone e baixo acústico. Outro momento de classe, quase Marisa Monte, é a boa balada soul Meu Abraço (parceria de Ivete e Marquinhos Carvalho). A suavidade permanece, mas sem grande surpresa vocal, em A Lua Q Eu Te Dei, de Herbert Vianna, a faixa mais óbvia do disco - não custa lembrar que a similar balada Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim (de Herbert e Paulo Sérgio Valle) foi que salvou o primeiro disco da cantora do total desastre comercial. De resto, o que temos em Beat Beleza é axé em todos os sabores, temperados por leves eletrônicas. Em alguns, como a faixa-título, e o samba Vira, Vira, parece que Ivete está fazendo um esforço sobrehumano de contenção para não se largar de vez e soltar os bichos no trio elétrico. Noutros, como Pererê, Empurra-Empurra e Rosa Roseira (que caberia muito bem numa Elba Ramalho), não tem jeito: a folia explode. E assim, cada vez mais Ivete parece distante do projeto de intérprete off-carnaval. (Silvio Essinger)