BIS - DEMÔNIOS DA GAROA
Demônios da Garoa (2000)
Crítica
Cotação:
A coletânea Bis enfocando o Demônios da Garoa traz o que há de mais original no samba paulista, rompendo possíveis fronteiras bairristas, dada a qualidade irrepreensível de seu repertório. Célebre por suas interpretações da obra de Adoniran Barbosa (presente em 14 das 28 faixas do CD duplo), o grupo é perfeito para entoar sambas com um pé no humor e outro na melancolia, algo extremamente difícil de se realizar já que o samba normalmente descamba ou para a alegria desvairada ou para a tristeza plena. É nesse fio tênue que os seis demônios nos vêm brindando, em seus quase 50 anos de atividades, com pérolas eternas do samba paulista, como Saudosa Maloca, Iracema, O Samba do Arnesto, Trem das Onze, Pafunça, Conselhos de Mulher e outras jóias de Adoniran e de outros autores. Como na hilária Promessa do Jacob (de Américo de Campos, do primeiro LP de 12 polegadas do grupo, lançado em 1958) que ironiza a pão-durice dos judeus ou na suingada e ao mesmo tempo triste Não Emplaca 61 (do saudoso carioca Monsueto e Ary Monteiro), que tratava de um amor em fim de carreira. Os sambas menos batidos, de uma forma geral, trazem algumas das melhores surpresas dessa coletânea. Não há como não dar uma gargalhada em números como Lenço na Moleira (Elzo Augusto), que narra o que ocorreu com uma turma de rapazes que foi namorar no sereno sem acatar o conselho materno de levar um boné. Ou como não se emocionar com números dolentes como Apaga o Fogo Mané (Adoniran), cuja protagonista, Inês, deixa um bilhete de despedida para seu marido no chão, perto do fogão. As queixas e a ingenuidade dos pobres da periferia paulista – especialmente filhos de imigrantes italianos – dos anos 50 e 60 ganharam a perfeita representação nas vozes afinadas do grupo, que incorporaram sotaque, fraseado musical e divisão rítmica muito particulares. Indispensável.(Rodrigo Faour)
Faixas
DISCO 1
DISCO 2