BIS - RENATO RUSSO
Renato Russo (2000)
Crítica
Cotação:
Entre as façanhas da coleção Bis, da EMI, sem dúvida está a de ter soltado no mercado a primeira coletânea da carreira solo de Renato Russo. Surpreendentemente, ela não se limita a compilar músicas de seus três álbuns, The Stonewall Celebration Concert (1994), Equilíbrio Distante (95) e o póstumo O Último Solo (97), feito com as sobras de estúdio desses dois. A gravadora foi buscar, por exemplo, A Carta, regravação de Erasmo Carlos para um sucesso de 1966, feita para o disco Homem de Rua (1992), com a participação de Renato – momento interessante, com arranjo country, embora cada cantor vá para um lado diferente, num estranho contraponto. Outra surpresa é A Cruz e a Espada, homenagem de Paulo Ricardo, no CD Rock Popular Brasileiro, à sua antiga banda, o RPM – o vocalista da Legião rouba a cena com uma intensa performance vocal. E por falar em intensidade, ele fez, ao lado do violonista Hélio Delmiro, uma versão de puro espírito rock’n roll para a delicada Gente Humilde, originalmente editada no Songbook de Vinicius de Moraes e agora recuperada no álbum duplo da série Bis.
Para quem conhece os solos de Renato (seu espaço de liberdade, longe da camisa de força da Legião), não há mais novidades. Só a felicidade de reencontrar as faixas que saíram das sessões de Stonewall, disco elegante, só de músicas em inglês, gravadas com arranjos sóbrios do tecladista Carlos Trilha. O vocalista fez uma seleção musicalmente primorosa, tomando o cuidado de reunir canções que tivessem um subtexto gay – ironicamente, ele incluiu duas do cowboy Garth Brooks, If Tomorrow Never Comes e The Dance. Boa parte das canções veio de musicais, caso de Send In The Clowns (Steve Sondheim), Change Partners (Irving Berlin), If I Loved You (Rodgers & Hammerstein), I Love You Porgy (irmãos Gershwin), a popular Miss Celie’s Blues (da trilha do filme A Cor Púrpura) e a inacreditável When You Wish Upon a Star, do desenho animado Pinocchio. Este não é o único momento de descontração: há uma releitura divertidíssima de Cherish, sucesso de Madonna. Por outro lado, em Stonewall Renato flertou com a obra de dois malditos: Leonard Cohen (Hey, That’s no Way to Sat Goodbye) e Nick Drake (Clothes of Sand). Detalhe: como bom pioneiro, o brasileiro foi o primeiro (e último) que se tem notícia a gravar por aqui uma de Drake, recluso compositor folk que virou mito ao morrer, em 1974, aos 26 anos de idade, de overdose de antidepressivos - mesmo na Inglaterra, só há uns dois anos atrás se começou a falar dele. Uma pena que Stonewall não aconteceu. A faixa que chegou mais próxima do sucesso foi Cathedral Song (Tanita Tikaram), regravado mais tarde em português, com mais êxito ainda, por Zélia Duncan.
Um aviso: esta coletânea da Bis não traz nem Solitudine e nem Strani Amore, os hits de Equilíbrio Distante, o disco solo de Renato que mais vendeu. Muita gente não entendeu quando Renato resolveu gravar um CD só com canções do breguíssimo pop italiano – e na língua original. Mas aos poucos o público captou (e bem) a mensagem. Só a paixão com que o músico se entregou a esse repertório tão inglório faz compensar a audição das músicas desse disco. Entre as selecionadas para a coletânea, podemos destacar é Dolcissima Maria, do grupo progressivo Premiata Forneria Marconi (o PFM). O resto não tem nada de diferente dos primeiros LPs do italianíssimo Jerry Adriani. Mas quem haveria de censurar Renato Russo em seu momento de liberdade? (Silvio Essinger)
Para quem conhece os solos de Renato (seu espaço de liberdade, longe da camisa de força da Legião), não há mais novidades. Só a felicidade de reencontrar as faixas que saíram das sessões de Stonewall, disco elegante, só de músicas em inglês, gravadas com arranjos sóbrios do tecladista Carlos Trilha. O vocalista fez uma seleção musicalmente primorosa, tomando o cuidado de reunir canções que tivessem um subtexto gay – ironicamente, ele incluiu duas do cowboy Garth Brooks, If Tomorrow Never Comes e The Dance. Boa parte das canções veio de musicais, caso de Send In The Clowns (Steve Sondheim), Change Partners (Irving Berlin), If I Loved You (Rodgers & Hammerstein), I Love You Porgy (irmãos Gershwin), a popular Miss Celie’s Blues (da trilha do filme A Cor Púrpura) e a inacreditável When You Wish Upon a Star, do desenho animado Pinocchio. Este não é o único momento de descontração: há uma releitura divertidíssima de Cherish, sucesso de Madonna. Por outro lado, em Stonewall Renato flertou com a obra de dois malditos: Leonard Cohen (Hey, That’s no Way to Sat Goodbye) e Nick Drake (Clothes of Sand). Detalhe: como bom pioneiro, o brasileiro foi o primeiro (e último) que se tem notícia a gravar por aqui uma de Drake, recluso compositor folk que virou mito ao morrer, em 1974, aos 26 anos de idade, de overdose de antidepressivos - mesmo na Inglaterra, só há uns dois anos atrás se começou a falar dele. Uma pena que Stonewall não aconteceu. A faixa que chegou mais próxima do sucesso foi Cathedral Song (Tanita Tikaram), regravado mais tarde em português, com mais êxito ainda, por Zélia Duncan.
Um aviso: esta coletânea da Bis não traz nem Solitudine e nem Strani Amore, os hits de Equilíbrio Distante, o disco solo de Renato que mais vendeu. Muita gente não entendeu quando Renato resolveu gravar um CD só com canções do breguíssimo pop italiano – e na língua original. Mas aos poucos o público captou (e bem) a mensagem. Só a paixão com que o músico se entregou a esse repertório tão inglório faz compensar a audição das músicas desse disco. Entre as selecionadas para a coletânea, podemos destacar é Dolcissima Maria, do grupo progressivo Premiata Forneria Marconi (o PFM). O resto não tem nada de diferente dos primeiros LPs do italianíssimo Jerry Adriani. Mas quem haveria de censurar Renato Russo em seu momento de liberdade? (Silvio Essinger)
Faixas