CAFÉ BRASIL 2 - CONJUNTO ÉPOCA DE OURO E CONVIDADOS

Época de Ouro / Dino 7 Cordas (2002)

2002
Crítica

Cotação:

É bastante comum projetos musicais coletivos ganharem continuações - mas nem sempre movidas pela qualidade, e sim oportunismo das gravadoras. Exceção digna é Café Brasil (Warner), que ano passado teve como grande estrela o conjunto Época de Ouro, dividindo o CD em duetos memoráveis. Agora, fazendo valer seu caráter excepcional, o disco dois não fica atrás do original: o grupo de Dino 7 Cordas e César Faria tem momentos mágicos com seus convidados. Incrível é como conseguiu-se tamanha coerência e autenticidade mesmo empregando-se um leque de participações tão distinto. Há desde a classe de Ivan Lins à malandragem típica de Zeca Pagodinho, e entre esses, vozes tão distintas quanto Lobão, Ney Matogrosso e Moska, e inserções instrumentais que vão da sanfona agreste de Sivuca à sofisticação do piano de Cristóvão Bastos. Prova da "impermeabilidade" do choro às modas passageiras, e da sua genuína capacidade de integrar (e influenciar) extremos antípodas da música brasileira. Ao mesmo tempo, o Época de Ouro não se deita sobre os louros do passado e faz questão de incluir composições inéditas - que não ficam devendo nada aos clássicos do pacote. E, o melhor de tudo, com ou sem inéditas, com ou sem convidados, a personalidade do Época permaneceu intacta nesta segunda edição. Para os cultores do chorinho, trata-se de uma dádiva.

Embora a rigor não existam altos e baixos no disco, os destaques vão para as faixas nas quais os convidados exibem maior intimidade com o idioma do choro. Como no bonito dueto entre Dino e Beth Carvalho (Aperto de Mão), a delicada Ana Carolina, valsinha entregue a Ney Matogrosso, e no "fundo-de-quintal-fino" de Santo Forte, na qual pontuam Arlindo Cruz & Sombrinha. As instrumentais Dino Pintando o Sete (de Sivuca) e Uma Farra na Ilha (que mescla a sutileza de Cristóvão Bastos ao vigor de Jorginho do Pandeiro) são pausas mais do que bem-vindas no desfile de belas interpretações. E mesmo as combinações mais aparentemente esdrúxulas (Lobão transformando sua Chorando no Campo num... choro, ou Elba Ramalho despenteando o samba-canção Nova Ilusão, as bossas Desafinado e Insensatez) integram-se, fluídas, num literal show de chorinho.(Marco Antonio Barbosa e Mônica Loureiro)
Faixas
2 Cegos de luz
(Aldir Blanc, Ivan Lins )
4 Nova ilusão
(Claudionor Cruz, Pedro Caetano)
5 Dino pintando o sete
(Sivuca, Glória Gadelha)
6 Chorando no campo
(Bernardo Vilhena, Lobão)
7 Uma farra na ilha
(Cristóvão Bastos, Jorginho do Pandeiro)
9 Bom Jesus
(Horondino Silva, Jorge Rocha)
12 O bandolim de Jacob
(Armandinho, Moraes Moreira)
13 Desafinado
(A.C. Jobim, N. Mendonça)
 
CAFÉ BRASIL 2 - CONJUNTO ÉPOCA DE OURO E CONVIDADOS