CINE BARONESA

Guinga (2001)

2001
Crítica

Cotação:

Maior revelação da música popular brasileira nos anos 90, Guinga volta a folhear seu álbum de recordações sentimentais e sonoras. Cine Baronesa é, praticamente, uma continuação de Suíte Leopoldina, o primoroso álbum de 1999, no qual o compositor e violonista carioca traduziu em melodias passagens de sua adolescência, marcadas por viagens freqüentes em trens de subúrbio. Desta vez, o ponto de partida para uma nova série de lembranças e tributos carregados de nostalgia é o cinema que o compositor freqüentava na juventude. A homenagem se dá na delicada faixa-título, que destaca os vocalises emotivos, mas sempre seguros, da cantora Fátima Guedes, muito bem acompanhada pelos violões do Quarteto Maogani.

Como já acontecera no disco anterior, em Cine Baronesa predominam composições instrumentais. A sensível Melodia Branca, que abre o álbum com um belo arranjo de cordas do pianista Gilson Peranzzetta, volta após as outras 11 faixas, interpretada apenas pelo autor, ao violão. Veículo para o talento do maestro e clarinetista Nailor “Proveta” Azevedo (líder da Banda Mantiqueira), o frevo Vô Alfredo traz um arranjo delicioso, que injeta sofisticação na sonoridade das bandinhas de coreto. O baião Geraldo no Leme parece inspirado em Hermeto Pascoal (homenageado no disco anterior), com os violões de Guinga e Lula Galvão dialogando com um afiado naipe de sopros.

Duas novas parcerias de Guinga com o letrista Aldir Blanc confirmam a química perfeita da dupla, no setor das canções. O arranjo da jazzística Yes, Zé Manés parafraseia Summertime (de George Gershwin) na introdução, com Chico Buarque nos vocais (“A atmosfera / zera a geografia / eu ouço na Bahia / sons de Georgia on My Mind”). É o próprio Guinga que canta o samba-choro Orassamba, com fusões de palavras reforçando a estranheza da melodia (“Tempestarde / chuvabismo / relampeado azulejei com a luz / além-rebentação”). Precioso também é No Fundo do Rio, samba em parceria com Nei Lopes, que também divide os vocais com Guinga. O Quarteto Maogani retorna em Fox e Trote (outra letra de Nei Lopes), um fox cheio de malandragem (“Municipal, um recital e eu de calça Lee / foi como um trio elétrico descendo o Pelô / desrespeitando Dona Canô”). Disco de Guinga produz o mesmo efeito de suas insólitas melodias: mal acaba-se de ouvir, já surge a curiosidade de saber o que o “doutor” das cordas vai aprontar na próxima. (Carlos Calado)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Melodia branca Ouvir
(Guinga)
2 Cine Baronesa Ouvir
(Aldir Blanc, Guinga)
3 Vô Alfredo Ouvir
(Aldir Blanc, Guinga)
4 Nem mais um pio Ouvir
(Sergio Natureza, Guinga)
5 Yes, Zé Manés Ouvir
(Aldir Blanc, Guinga)
6 Caiu do céu Ouvir
(Guinga)
7 No fundo do Rio Ouvir
(Guinga, Nei Lopes)
8 Estonteante Ouvir
(Guinga)
9 Geraldo no Leme Ouvir
(Guinga)
10 Fox e trote Ouvir
(Guinga, Nei Lopes)
11 Como eu imaginara Ouvir
(Guinga, Hermínio B. de Carvalho)
12 Orassamba Ouvir
(Aldir Blanc, Guinga)
13 Melodia branca Ouvir
(Guinga)
 
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