COISA DE CHEFE

Cláudio Jorge (2000)

2000
Carioca Discos
Crítica

Cotação:

Mais um reforço para a ala de raiz do samba. Embora se trate do terceiro disco deste compositor/instrumentista discreto - mais conhecido nos bastidores, ás dos estudios pelos arranjos e o violão certeiro - na verdade é sua verdadeira estréia, não apenas no formato CD, mas de corpo inteiro nas 14 faixas onde ele adquire nova dimensão como intérprete da própria obra. Carioca, nascido em 1949 (caçula na hierarquia dos bambas que só chegam aos estudios depois dos 70), Claudio Jorge (de Barros) foi fã dos Beatles, mas não se nota. Transpiram mais de seu encordoado elegante (e balizador) lições de requinte harmônico da bossa nova, especialmente no instrumental Samba pro Luizão Maia, onde ele solta os bichos numa jam ao lado de Leny Andrade (vocalise), Fernando Merlino (piano), Dirceu Leitte (flauta), Roberto Marques (trombone), Humberto Araújo (sax soprano), entre outros.

Mas essa faixa é exceção junto ao maxixe Coco Sacudido (com participação do co-autor, Nei Lopes), gravado anteriormente por Roberto Ribeiro. Todo o restante do cardápio é formado por sambas que conjugam elaboração e simplicidade num leque de parcerias que vai de João Nogueira (Amor de Fato, sucesso na voz do próprio) ao baterista (e ótimo compositor) Wilson das Neves, no cadenciado E o Vento Levou e no detonador O Que é Carnaval ("o enredo da escola de samba tinha fundamento/ do lado de fora ou da corda pra dentro/ era sintonia de igual pra igual"). Supresa é a dupla formada com o baixista Jamil Joanes no partido alto hilário Panela na Pia onde até os presidentes do Brasil e EUA (o mangueirense Bill Clinton, que no enredo sai atrás de uma secretária) são convocados para lavagem da louça suja após uma peixada da pesada.

Há muitos toques líricos no roteiro, como Princípio do infinito, parceria com Luís Carlos da Vila, que entra em campo na gravação, ou as composições de Claudio sozinho, Novos Tempos e Solidariedade Humana. Mas diante do bombardeio de contrafações sofrido pelo gênero, era inevitável o disparo de farpas em temas guerreiros (e nada panfletários) como O Samba Melhor do Brasil ("meu samba quer homenagem/ porque meu samba é sucesso") e na faixa título, que separa a ideologia da mercadoria: "o samba é pra se viver/ não é coisa de vender/ vem do coração, tem mais que razão/ é uma questão de ser ou não ser". Que este disco venda muitas cópias e continue financiando os que vivem o samba e o fazem sobreviver.(Tárik de Souza)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 O samba melhor do Brasil Ouvir
(Cláudio Jorge)
2 Amor de fato Ouvir
(Cláudio Jorge, João Nogueira)
3 Novos tempos Ouvir
(Cláudio Jorge)
4 Princípio do infinito Ouvir
(Cláudio Jorge, Luiz Carlos da Vila)
5 Coisa de chefe Ouvir
(Cláudio Jorge)
6 E o vento levou Ouvir
(Cláudio Jorge, Wilson das Neves)
7 O que é carnaval Ouvir
(Cláudio Jorge, Wilson das Neves)
8 Panela na pia Ouvir
(Jamil Joanes, Cláudio Jorge)
9 Solidariedade humana Ouvir
(Cláudio Jorge)
10 Só você Ouvir
(Cláudio Jorge, Luiz Alfredo)
11 Quando toco na viola Ouvir
(Cláudio Jorge, Ivan Lins)
12 Estrela cadente Ouvir
(Cláudio Jorge, Nei Lopes)
13 Coco sacudido Ouvir
(Cláudio Jorge, Nei Lopes)
14 Samba pro Luizão Maia Ouvir
(Cláudio Jorge)
 
COISA DE CHEFE