CONTRADITÓRIO?
DJ Dolores & Orchestra Santa Massa (2002)
2002
Candeeiro/Trama
T005/602-2
Crítica
Cotação:
Contraditório confirma quase todo o hype construído em torno de Helder "Dolores" Aragão e sua trupe, ao longo do ano passado. O DJ recifense chama para si a responsabilidade de atualizar, mais uma vez, a revolução do manguebeat; enquanto muita gente tem tentado, com maior ou menor sucesso, unir as pontas da tradição nordestina com a contemporaneidade eletrônica (Lenine, Totonho, Stela Freitas), aqui neste álbum a fusão se dá no ponto exato. A grande sacada de Dolores é ver tudo, regional e universal, sob a mesma lente. O álbum soa orgânico e espontâneo; não se trata de, aham, "modernizar a MPB via eletrônica" ou qualquer outro ineficaz samba do crioulo doido. O regionalismo parece nascer já sob a égide dos samples e dos loops, o que aumenta o foco e o punch do grupo (na verdade um combo com seis membros fixos e um monte de convidados). Rabecas armoriais, vocais femininos tipicamente forrozeiros e uma profusão de ritmos nordestinos - maracatu, coco, embolada - se irmanam de forma muito natural às batidas programadas e aos grooves de guitarra. Graças a Dolores, o credo de Chico Science ("modernizar o passado é uma revolução musical") chega à maturidade, cheio de vida. O único senão do álbum é uma certa falta de peso, em comparação com os incendiários shows do grupo vistos nos últimos meses. Tirante isso, não há contradição que derrube Dolores & cia.
Brasileiras e universais, são as várias candidatas a hit que saltam aos ouvidos. A escolha inicial óbvia é, claro, Dança da Moda, colisão de um imaginário nordestino quase folclórico com um groove infeccioso, irresistível para as pistas. Mas o drum'n'bass que tempera Samba de Dez Linhas - que na verdade é uma quase-toada agreste - e a levada certeira e sinuosa de Adorela (com os incríveis versos "A minha dor não é a dor dela / A minha dor é Doriana e a dor dela é Adorela") também poderiam se encaixar neste contexto. Ainda há outras paragens em Contraditório, como as atmosferas menos explicitamente dançantes audíveis em O Enigma Turco ou a faixa-título, e também no elegante downtempo de Subúrbio Soul. Ao mirar em referências aparentemente díspares, Dolores também acerta. Basta checar as batidas sacolejantes de Catimbó, que sugere um possível trip-hop nordestinizado, ou Nordestina (que mostra como o Mestre Ambrósio poderia soar, depois de um eletro-choque que limpasse a fixação do grupo pelo "100% regional"). (Marco Antonio Barbosa)
Brasileiras e universais, são as várias candidatas a hit que saltam aos ouvidos. A escolha inicial óbvia é, claro, Dança da Moda, colisão de um imaginário nordestino quase folclórico com um groove infeccioso, irresistível para as pistas. Mas o drum'n'bass que tempera Samba de Dez Linhas - que na verdade é uma quase-toada agreste - e a levada certeira e sinuosa de Adorela (com os incríveis versos "A minha dor não é a dor dela / A minha dor é Doriana e a dor dela é Adorela") também poderiam se encaixar neste contexto. Ainda há outras paragens em Contraditório, como as atmosferas menos explicitamente dançantes audíveis em O Enigma Turco ou a faixa-título, e também no elegante downtempo de Subúrbio Soul. Ao mirar em referências aparentemente díspares, Dolores também acerta. Basta checar as batidas sacolejantes de Catimbó, que sugere um possível trip-hop nordestinizado, ou Nordestina (que mostra como o Mestre Ambrósio poderia soar, depois de um eletro-choque que limpasse a fixação do grupo pelo "100% regional"). (Marco Antonio Barbosa)
Faixas
2
A dança da moda
(DJ Dolores, Fernando Catatau, Tema do folclore alagoano, recolhido pela comadre Florzinha)
(DJ Dolores, Fernando Catatau, Tema do folclore alagoano, recolhido pela comadre Florzinha)