CRIOLINA

Misturar funk, rock, eletrônica, samba e MPB atualmente não chega a ser novidade alguma. Só o que é preciso para tirar um novo caldo dessa panela é a atitude (desencanada e) certa, e o estofo necessário de boas canções. Mesmo sem ser uma revolução - sem sequer reinvidicar isso - Criolina, de Maurício Negão, tem fôlego suficiente para soar como um produto pop altamente convicente. Negão é o mais promissor talento do cast da gravadora carioca Rastropop e atinge aqui um animador nível de maturidade. Seu suingue carioca legítimo soa mais homogêneo do que, por exemplo, o de um Ivo Meirelles; outra vantagem é que o compositor/cantor/guitarrista, mesmo sem tirar o pé fincado na misturança de ritmos, consegue vislumbrar sempre que necessário o potencial "colante" de suas melodias. Seria uma ótima "revelação" - se já não fosse este o terceiro álbum da figura...

Com propriedade, Negão mescla funk pesadão e samba (em Música de Lavadeira, surpreendentemente visceral e sacolejante), saca rock'n'roll cheio de suingue (como na faixa-título e em No Seu Jardim, adornadas com vigorosas guitarradas) e cai no partidão mais "raiz" (É Culpa da Erva Não) - tudo no mesmo pique. Como que para provar que não depende apenas de arranjos espertos, sai-se bem também nas ultra-econômicas O Guê So III e TV e Geladeira, que acabam evidenciando o cantor de estilo e técnicas não muito ortodoxas, mas eficazes. O bom é que em momento algum a costura rítmica fica torta; nem mesmo quando ele ousa para valer e transforma Morro Dois Irmãos (Chico Buarque) em quase-rock básico. As boas letras, que comentam de forma ácida e bem-humorada o cotidiano (carioca, claro, mas universal também), completam bem um panorama redondo.(Marco Antonio Barbosa)