CURUPIRA
Curupira (2000)
Crítica
Cotação:
Diz o folclore que o curupira é um ser que vive na floresta e gosta de pregar peças naqueles que se perdem no mato, deixando falsos rastros, já que possui os pés virados para trás – seguir suas pegadas não leva a lugar nenhum. Não é o caso desse curupira aqui. Seguindo seu rastro, vamos dar em muitos – e ótimos – lugares diferentes. Curupira é um trio de piano, baixo e bateria, formado por três excelentes músicos que, apesar de jovens ("curupira" em tupi significa "corpo de menino"), fazem música madura e segura, com uma qualidade rara. Transitando com sofisticação e naturalidade pelas searas do jazz, maracatu, xote, baião, frevo, samba, André Marques (piano), Ricardo Zohyo (baixo) e Cleber Almeida (bateria) apostam certeiramente em um repertório inédito e original. A única composição não assinada pelo grupo é Correu Tanto Que Sumiu, de Hermeto Pascoal, influência notória na sonoridade do trio. E nem podia ser diferente. André Marques começou a tocar no grupo de Hermeto aos 20 anos de idade, um verdadeiro prodígio. O grande mestre não podia ficar de fora, e aparece em um endiabrado (talvez inspirado pelo curupira?) solo de escaleta (um de seus instrumentos favoritos) em Parada em Itapipoca. A outra participação é de Natan Marques (violonista, guitarrista, arranjador e pai de André) violão em Pra vós mecê. Totalmente instrumental, o disco passeia amplamente pela música brasileira, naquele estilo que faz a delícia dos fãs do jazz – mudanças de ritmo e andamento, solos, longos improvisos, convenções – desde o Maracatu de Abertura, com seu padrão rítmico constante feito pelo piano contrastando com a suave melodia-tema, e cujo desfecho é puramente percussivo. Os amantes do free-samba-jazz-fusion têm para seu deleite Pau de Chuva, com destaque para o solo de baixo fretless. Ressalte-se ainda o xote Expresso Brasileiro, com sua convidativa levada bem cadenciada (que pode ser tudo, menos "expressa"), Prelúdio em Baião e as simpáticas vinhetas com caráter regional (Pife, Capoeira e Aos Negros do Rosário), com cerca de um minuto de duração, que estabelecem bom contraste com as longas faixas (algumas com mais de 8 minutos). E ainda o encerramento, Correu Tanto Que Sumiu, um engraçado casamento entre título e música. Boa pedida.(Nana Vaz de Castro)
Faixas