DANCE FORRÓ MAIS EU

Depois de Dominguinhos ainda não havia aparecido ninguém que projetasse o baião nacionalmente com a mesma simplicidade e competência necessários ao estilo. Targino está no caminho certo. Depois de ele ter estourado nacionalmente Esperando na Janela ("Por isso eu vou na casa dela, ai, ai/ Falar do meu amor pra ela, ai ai") na voz de Gilberto Gil e de ter lançado seis discos independentes entre 1996 e 2000, agora a Geléia Geral (selo de Gil) decidiu investir no moço, descoberto durante as filmagens do filme Eu, Tu, Eles (de Andrucha Wadington) num baile no interior do país, na divisa de Bahia e Pernambuco. Dance Forró Mais Eu tem um forró raiz (ou pé-de-serra, como está na moda se dizer), com algumas ótimas canções e outras apenas corretas. Entre as melhores estão os xotes Pra se Aninhar e Qui Nem Brasa (ambas do próprio Targino, sendo que a primeira acaba de ser gravada por Elba Ramalho em seu CD Cirandeira), uma versão em baião do hit Verdade, de Zeca Pagodinho, a politizada Cidadão Comum (com participação do padrinho Gil), a dolente Coitado de Eu, os forrós Carrapeta de Batom (Maciel Melo) e Aniversário de São João (um raro momento despretensioso na obra de Carlinhos Brown, já gravado por Elba no CD Flor da Paraíba, de 97, com o nome de São Xangô Menino). Targino também fez um pot-pourri com o ancestral Baião, de Gonzaga e Humberto Teixeira, com De Onde Vem o Baião, de Gil. Ficou melhor que a outra incursão pelo repertório do Rei do Baião, com Balance Eu e Vida de Vaqueiro, que necessitavam de uma interpretação menos monocórdia. Falando nisso, Targino ainda precisa puxar os forrós com mais empolgação, com mais improvisos, seguindo a lição deixada pelos papas Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e Dominguinhos. Mesmo assim, seu CD é competente e bem acima da média no gênero, com caprichada produção do tarimbado Roberto Sant'ana. E de quebra traz o sucesso Esperando na Janela que todo mundo vai querer ouvir de novo. (Rodrigo Faour)