DE TANTOS AMORES
Gal Costa (2001)
Crítica
Cotação:
Gal Costa cansou de inventar e agora resolveu reinventar - só que a si mesma. Não é tão simples assim. O fato é que, tirando um outro momento mais ousado (como O Sorriso do Gato de Alice, em 1993, ou mesmo Aquele Frevo Axé, de 98), a baiana está estacionada em um confortável nicho de releituras e homenagens há pelo menos 20 anos. Também não é a hora de cobrar reviravoltas e ousadias de uma artista mais do que amadurecida. Entretanto, o que dá para sentir em Gal de Todos os Amores é que a cantora quer mudar, sem que nada mude. Como assim? Regravando um punhado de standards de seu próprio repertório passado, pegando uma versão aqui, outra ali, dando uma garibada geral nos arranjos... Gal veste uma "roupa nova", mas essencialmente não modifica nada. Daí temos um álbum sem dúvida muito bem feito, mas sem qualquer surpresa ou arroubo de emoção. Ou, o que é pior, às vezes até diluindo a própria história da cantora.
Os números inéditos (ou mais ou menos inéditos, já que todas as músicas do disco já tinham sido apresentadas de uma ou outra forma) exibem - ou querem exibir - uma Gal "adulta", chique, com ares de grande dama da canção. Para tanto, ela injeta bossa nova em Dama Sofisticada, abrasileirando o jazz de Duke Ellington (compositor do original Sophisticated Lady); e passeia com firmeza pela intrincada harmonia de Apaixonada, de Ed & Nelson Motta. Só que o que se sobressai mesmo, ao final, é a delicadeza na bela e emocionada recriação de A Última Estrofe.
Entretanto, a sensação de redundância é o que dá o tom do álbum. Um de seus compositores favoritos, Jorge Ben, mereceu duas re-releituras. Gal transformou Que Pena em híbrido de samba-funk com reggae, registro que se repete (mas com sabor mais latino) na recriação de Que Maravilha. Por mais que as regravações de Outra Vez e Folhetim tenham saído bem-feitas, com boa performance da cantora e arranjos bem-cuidados (incluindo cordas clássicas na primeira e um naipe de metais na segunda), é frustrante compará-las aos originais da própria Gal. O mesmo se sente ao reouvir Índia, registrada pela terceira vez, agora com um clima cool que não caiu bem. Força Estranha, insuperável na versão original - mais até que a famigerada versão de Roberto Carlos - também soa esquisita, colando piano e metais jazzísticos de maneira quase dissonante. É como se Gal quisesse refazer seus (gloriosos) passos de um modo mais elegante, refinado. Mas o resultado soa morno. E pior, acaba dando a impressão de que a cantora, na verdade, vê seu trabalho anterior como algo que merecesse ser consertado. Vale o antigo ditado hollywoodiano: se não estava quebrado, para que consertar?(Marco Antonio Barbosa)
Os números inéditos (ou mais ou menos inéditos, já que todas as músicas do disco já tinham sido apresentadas de uma ou outra forma) exibem - ou querem exibir - uma Gal "adulta", chique, com ares de grande dama da canção. Para tanto, ela injeta bossa nova em Dama Sofisticada, abrasileirando o jazz de Duke Ellington (compositor do original Sophisticated Lady); e passeia com firmeza pela intrincada harmonia de Apaixonada, de Ed & Nelson Motta. Só que o que se sobressai mesmo, ao final, é a delicadeza na bela e emocionada recriação de A Última Estrofe.
Entretanto, a sensação de redundância é o que dá o tom do álbum. Um de seus compositores favoritos, Jorge Ben, mereceu duas re-releituras. Gal transformou Que Pena em híbrido de samba-funk com reggae, registro que se repete (mas com sabor mais latino) na recriação de Que Maravilha. Por mais que as regravações de Outra Vez e Folhetim tenham saído bem-feitas, com boa performance da cantora e arranjos bem-cuidados (incluindo cordas clássicas na primeira e um naipe de metais na segunda), é frustrante compará-las aos originais da própria Gal. O mesmo se sente ao reouvir Índia, registrada pela terceira vez, agora com um clima cool que não caiu bem. Força Estranha, insuperável na versão original - mais até que a famigerada versão de Roberto Carlos - também soa esquisita, colando piano e metais jazzísticos de maneira quase dissonante. É como se Gal quisesse refazer seus (gloriosos) passos de um modo mais elegante, refinado. Mas o resultado soa morno. E pior, acaba dando a impressão de que a cantora, na verdade, vê seu trabalho anterior como algo que merecesse ser consertado. Vale o antigo ditado hollywoodiano: se não estava quebrado, para que consertar?(Marco Antonio Barbosa)
Faixas