DIA A DIA
Beth Nazar (2000)
Crítica
Cotação:
Beth Nazar atuou no teatro universitário da década de 60 em São Paulo, participando, entre outras, da peça Morte e Vida Severina, texto de João Cabral de Melo Neto musicado pelo então iniciante Francisco Buarque de Hollanda. Depois de trabalhar em mais algumas produções teatrais, Beth acabou decidindo-se pelo Direito, e hoje é diretora do Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas da PUC de São Paulo. Mas eis que de repente a doutora resolveu voltar às origens artísticas. Dia a dia é uma boa surpresa, principalmente em se tratando de um disco de estréia. Prima pelos bons arranjos assinados por Eduardo Gudin (que faz também a direção musical), adequados ao repertório sofisticado e bem cuidado. Recheado de baladas, o disco se mostra coerente do início ao fim, envolvendo Celso Viáfora (compositor da faixa-título), Chico Maranhão (Estranho Sumiço), Chico Buarque (Onde É Que Você Estava?) e outros em uma roupagem suave e homogênea. Paulo César Pinheiro parece ser o letrista preferido de Beth – talvez por influência de Gudin, grande parceiro de Pinheiro em tantas músicas, discos e shows. As letras de Paulo César comparecem aqui em quatro faixas: Vento Bom, com Eduardo Gudin; Tempo de Chuva, com Francis Hime; Quem Já Esteve Só, com Ivor Lancelloti; e Mar Corrente, com Théo de Barros (que participa da gravação). Além dessas, a dupla Moacyr Luz/Aldir Blanc surge em um dos pontos altos, no conforto quase maternal de Minhas Asas ("Você fica acordado sem pegar no sono/ Deitado em outras casas/ Você só descansa sob as minhas asas"). A cantora sai-se melhor nas músicas mais densas, como a tocante Quem Já Esteve Só, a mais impressionante do CD ("Quem já esteve só/ sabe o desânimo que a noite traz/ Ouve o barulho que o relógio faz/ tornando a solidão muito maior"), que conta ainda com um oboé elegante, na medida certa. Nas faixas mais pra cima o resultado não é o mesmo, como Onde É Que Você Estava? (gravada por Chico em 1969), Estranho Sumiço (apesar do instrumental de primeira) e Vento Bom – em todas elas o timbre grave da cantora é levado a regiões excessivamente profundas. Boa Desculpa (Dino Galvão/ Melchiades Cunha Jr) é uma boa bossa, mas não se realiza plenamente, ao contrário de Antigos Sinais (Gudin/ Costa Netto), que pede um dois-pra-lá-dois-pra-cá de rosto colado. Beth Nazar não é uma Nana Caymmi, mas canta com sentimento quando necessário, principalmente nas baladas. Bom de ouvir.(Nana Vaz de Castro)
Faixas