DISCO

O nome de Fernando Salém ainda pode soar desconhecido para o grande público, mas quem já acompanhou os trabalhos de bandas como a Vexame ou a Clínica vai logo se lembrar da verve musical desse guitarrista, compositor e vocalista paulista. Na praia do pop brasileiro, raros artistas conseguem unir humor tão afiado, letras bem-sacadas, muito suíngue e pleno domínio instrumental como ele. Qualidades que chamam atenção de forma especial em Disco, seu primeiro álbum individual. O poder desmedido dos meios de comunicação parece exercer uma relação de atração e repulsa sobre Salém. Isso ele expressa com graça e ironia, no funk-reggae Informação ("eu não agüento mais tanta informação / eu quero ser um monge no Japão"), ou com acidez, na quase-brega Mídia ("uma garota sem censura / causando boa impressão / um olho no ibope e outro na cultura / champagne e arroz com feijão"), em que a mídia é vista como uma ambígua mulher de "pele de cristal", que "cria fama e deita na sua lama". Essa espécie de obsessão atravessa ainda o samba Zoom e a metaleira Cinco Minutos ("ele quer os seus 5 minutos / de 1 metro quadrado / de aldeia global"), que fecha o disco de forma apoteótica. Mas o humor ácido de Salém também se espalha por outros temas, como o hilariante Trauma ("você me carregou no colo / você só me beijava na boca / e eu me entregava de corpo e alma"), um edipiano funk capaz de irritar muitas mães de plantão. Ou a divertida Árvore, parceria com André Abujamra (da banda Karnak), que traz um criativo arranjo de metais, com cara de música para crianças. Se o pop brasileiro decidisse eleger seu Frank Zappa, Fernando Salém seria um candidato fortíssimo.(Carlos Calado)