DOCE RECORDAÇÃO
Monarco / Velha Guarda da Portela / Casquinha (1986)
Crítica
Cotação:
Depois do histórico disco Portela Passado de Glória, produzido por iniciativa do jovem Paulinho da Viola em 1970, o grupo se sambistas conhecido como Velha Guarda da Portela passou mais de 15 anos sem voltar aos estúdios. Até que em 1986 o produtor japonês Tanaka tomou a iniciativa de gravar mais um disco com pérolas que corriam o risco de ficar esquecidas ou restritas aos membros da comunidade. A história já é bem conhecida (leia matéria) há vários anos, mas só agora essa gravação chega ao Brasil em CD, pela Nikita (na década de 80 foi lançado em LP pela Kuarup, na série Grandes Sambistas).
A importância do disco é muito grande, porque alia boa qualidade técnica (melhor que Passado de Glória, por exemplo) e artística em excelentes sambas pinçados de uma fonte inesgotável de pérolas que vivem na memória coletiva dos portelenses. Além disso, participam do disco figuras que hoje povoam a extensa galeria dos ilustres in memorian da agremiação: Alberto Lonato, Chico Santana e Manacéa. A faixa que abre o disco, Hino da Velha Guarda da Portela, antecipa com precisão o que acontece hoje em dia. Sua primeira frase - "A Velha Guarda da Portela vem saudar/ com este samba para a mocidade brincar" - reflete o público atual dos shows da Velha Guarda, coalhado de jovens com idade para serem netos dos artistas no palco. Tanto que é a música que abre os shows do grupo até hoje. A homenagem a velhos mestres não poderia ficar de fora, unindo duas figuras inesquecíveis, Alcides Malandro Histórico (Você Não É a Tal Mulher) e Alvaiade (Para o Bem do Nosso Bem). Ainda mais emocionante no quesito homenagem é Flor do Interior, samba de Manacéa cantado pelo próprio, então líder da Velha Guarda, composto em memória de Clara Nunes (1943-1983), cantora que virou nome da rua onde fica a quadra da escola, em Madureira ("Foi triste a despedida/ da Flor Clara do interior").
Impressiona a capacidade de fazer tantos sambas bons e originais sobre os mesmo temas de sempre: amores malsucedidos (Doce Amor, Nuvem que Passou, Esqueça, Doce Recordação), mulheres de conduta pouco exemplar (Vai Mesmo e um pot pourri que junta logo três odes às fingidas e ingratas em geral: Mau Procedimento-Mulher Ingrata-Nega Danada). O som é perfeitamente redondo, com um time de músicos que conta com feras como Paulão Sete Cordas, Pedro Amorim (bandolim), Henrique Cazes (violão tenor), Mauro Diniz (cavaquinho) e outros. Além disso, o trio de pastoras (Doca, Eunice e Surica), que se mantém até hoje, marca presença com vozes viçosas e vigorosas.
Destaque ainda para o lirismo elegíaco de Madrugada, de Aniceto, e para a última faixa, Cidade Mulher, do patriarca Paulo da Portela (composta para o filme homônimo, de 1936, para o qual Noel Rosa também compôs uma marcha, que entrou na trilha sonora pela voz de Orlando Silva e se tornou mais conhecida). Um belo presente para os amantes do samba.(Nana Vaz de Castro)
Faixas
Para o bem do nosso bem (Alvaiade)
Mulher ingrata (Chatim)
Nega danada (que mulher) (Chatim)
Nega danada (que mulher) (Chatim)