DWITZA
Ed Motta (2002)
Crítica
Cotação:
Dwitza representa, se não um ponto final, um divisor de águas radical na carreira de Ed Motta como a conhecemos. Sai de cena o eficaz - sofisticado, mas acessível - compositor pop e entra o experimentalista, o jovem estudioso da música negra dando vazão a sua considerável cultura sônica. O disco traz um repertório basicamente instrumental (à exceção de duas faixas) no qual a voz de Ed entra como pano de fundo, nos vocalises jazzísticos que ele vem testando desde os tempos de Entre e Ouça (92). Os temas foram concebidos como peças de um showcase triplo - demonstrando a versatilidade de Ed como compositor, sua erudição em termos de referências musicais e sua capacidade como arranjador, produtor e instrumentista. O resultado é ambíguo. Nos três quesitos citados acima, o volumoso artista se sai muito bem. Jazz (sobretudo o da escola "afrocêntrica" dos EUA), trilhas cinematográficas, rock progressivo, soul, funk, samba-jazz, tudo isso e mais um pouco entra no caldeirão sonoro do disco, embasando composições de harmonias tortuosas (leia-se ricas e surpreendentes). Timbres e instrumentos vintage valorizam os arranjos, deixando tudo com uma sonoridade de trilha sonora à la anos 70. Mas Dwitza, concebido assumidamente como "disco difícil", é árido aos ouvidos, especialmente aos acostumados à vertente pop do trabalho de Ed. É o tipo de álbum que "dá trabalho para escutar", mesmo para quem - estes, poucos - tiver condições de digerir e perceber todas as influências e referências espalhadas pelo disco.
Por pouco Ed não cai na tentação de esbanjar, futilmente, sua sapiência musical - tranformando o CD numa cansativa exposição de sonoridades. Quando a pretensão baixa a bola, porém, Dwitza oferece bons achados. Em meio ao mar de citações, algumas claras (Amalgasantos, para Moacir Santos e Um Dom pra Salvador, homenagem ao pianista brasileira), outras obscuras, há espaço para música que fala por si só. Como as balançadas Lindúria e a já citada Um Dom, ambas remetendo às trilhas sonoras hollywoodianas e ao samba-jazz. As onomatopeicas Malumbulo e Papuera pulsam em ritmo afro, revezando-se com o balanço cool de Cervejamento Total (conjugando jazz e batucada). As duas únicas músicas com letra, Doce Ilusão e Coisas Naturais, mostram um compositor refinado e econômico, mas acessível. Esperemos que Ed consiga conjugar a sede de desbravador musical "sério" com seu talento nato para a música popular. (Marco Antonio Barbosa)
Por pouco Ed não cai na tentação de esbanjar, futilmente, sua sapiência musical - tranformando o CD numa cansativa exposição de sonoridades. Quando a pretensão baixa a bola, porém, Dwitza oferece bons achados. Em meio ao mar de citações, algumas claras (Amalgasantos, para Moacir Santos e Um Dom pra Salvador, homenagem ao pianista brasileira), outras obscuras, há espaço para música que fala por si só. Como as balançadas Lindúria e a já citada Um Dom, ambas remetendo às trilhas sonoras hollywoodianas e ao samba-jazz. As onomatopeicas Malumbulo e Papuera pulsam em ritmo afro, revezando-se com o balanço cool de Cervejamento Total (conjugando jazz e batucada). As duas únicas músicas com letra, Doce Ilusão e Coisas Naturais, mostram um compositor refinado e econômico, mas acessível. Esperemos que Ed consiga conjugar a sede de desbravador musical "sério" com seu talento nato para a música popular. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas