E QUERO QUE A CANÇÃO... SEJA VOCÊ

E Quero que a Canção... Seja Você é um tributo que Leny Andrade presta a Ronaldo Bôscoli, recriando algumas de suas mais famosas canções. Como não poderia deixar de ser, o disco pende para o lado da bossa nova - junto a Roberto Menescal e Carlos Lyra, Bôscoli perpetrou vários standards do gênero. A conhecida mistura de técnica e feeling burilada por Leny ao longo dos anos está bem afiada no álbum, produzido por Raymundo Bittencourt; e mesmo circunscrita obrigatoriamente à bossa nova, a cantora não se limita aos clichês do estilo. A orientação básica de Leny é um suingue sutil e jazzístico, conduzido por uma banda competente e discreta - que deixa a cantora brilhar, plena em suas modulações influenciadas pelas grandes damas do jazz americano. Inclusões ocasionais de naipes de cordas clássicas dão o toque de refinamento final ao conjunto. Ou seja, trata-se de uma releitura bem pessoal de um dos cânones da bossa, reinterpretado com inteligência, mas mantendo-se o devido respeito.

Leny recria a bossa de Bôscoli fugindo do banquinho-e-violão. Mesmo nos momentos mais ortodoxos (O Barquinho, Rio, Você), a condução segue o "padrão" mas não chega aos chavões do gênero, banalizado em happy hours e elevadores. Vôos mais altos ficam reservados às faixas mais liberadas do cânone bossanovístico. Vagamente, por exemplo, ganha ares de balada elegante, assim como Saudade Fez um Samba - ambas em puro clima cool. O samba mais puro - do qual a bossa é basicamente uma versão mais sofisticada - dá as caras em Se É Tarde Perdoa, contrastando com a sutileza de outras versões, como Copacabana de Sempre e Canção que Morre no Ar.(Marco Antonio Barbosa)