ENCICLOPÉDIA MUSICAL BRASILEIRA - JACKSON DO PANDEIRO E GORDURINHA
Jackson do Pandeiro / Gordurinha (2000)
Crítica
Cotação:
A enxurrada de coletâneas e coleções com que as gravadoras estão inundando o mercado fonográfico brasileiro provoca reações diversas. Se por um lado há reclamações e questionamentos (por que não relançam os discos originais?), por outro há o inegável mérito de disponibilizar em CD gravações de épocas ainda mais remotas que os LPs, como os discos de 78 rotações. Neste volume, que reúne o paraibano Jackson do Pandeiro e o baiano Gordurinha, nove das quatorze faixas são datadas entre 1953 e 1960 (as outras cinco são de 1974 a 1978). Portanto é uma excelente oportunidade de ouvir a sonoridade típica dos conjuntos regionais dos anos 50 acompanhando dois "monstros sagrados" que são Jackson e Gordurinha.
O primeiro, muito já se falou de suas incríveis divisões rítmicas sincopadas, de seu suíngue único, de seus cocos empenados e demasiado arretados aos ouvidos "do sul", acostumados à placidez dos sambas-canções. As sete músicas do disco são ótimos exemplos de tudo isso. Se não chegam a ser raridades (Vou de Tutano, Coração Bateu, Forró em Limoeiro, Sebastiana, O Rei Pelé, Tambor de Crioula e Água com Leite), funcionam como uma espécie de resumo da carreira de Jackson. O clássico Sebastiana, em gravação de 1954, é um coco no estilo que alçou Jackson ao estrelato em todo o país. Nitidamente é possível ouvir o pandeiro sincopado, quebrando o ritmo ao acentuar os tempos fracos, ao lado da sanfona, do violão, triângulo, zabumba e o inevitável corinho (que grita "A-E-I-O-U-Ypsilone"). Quatro faixas depois, Tambor de Crioula, em gravação de 1974, traz, além do regional, alguns efeitos de guitarra elétrica no mínimo curiosos – que fazem pensar em intervenções tropicalistas – e "viradas" de bateria no acompanhamento da voz de Jackson, que conserva o mesmo vigor de 20 anos antes.
Já Gordurinha pode vir a ser uma descoberta para muita gente. A começar pela faixa que abre o disco, Chiclete com Banana, parceria com – não por acaso – Almira Castilho, esposa e companheira de palco de Jackson. A versão de Gilberto Gil (do disco Expresso 2222, de 1972) celebrizou de tal forma a mistura de Miami com Copacabana que ouvir a ótima interpretação – de certa forma profética – do próprio compositor (de 1959) ganha um significado especial, em boa parte devido ao competentíssimo e suingado acompanhamento instrumental. Gordurinha teve seus maiores sucessos regravados por outros artistas nas décadas de 60 e 70. Além de Chiclete, o hilariante Mambo da Cantareira teve uma versão de Jards Macalé e a Súplica Cearense foi gravada por Luiz Gonzaga e até pela cantora Vanusa. A faceta humorista de Gordurinha (exerceu essa profissão no rádio na Bahia, em Recife e na Rádio Nacional, no Rio) aparece ainda em Baiano Burro Nasce Morto, que tem um trecho falado, com direito a risos da platéia. Uma boa combinação de talentos. (Nana Vaz de Castro)
O primeiro, muito já se falou de suas incríveis divisões rítmicas sincopadas, de seu suíngue único, de seus cocos empenados e demasiado arretados aos ouvidos "do sul", acostumados à placidez dos sambas-canções. As sete músicas do disco são ótimos exemplos de tudo isso. Se não chegam a ser raridades (Vou de Tutano, Coração Bateu, Forró em Limoeiro, Sebastiana, O Rei Pelé, Tambor de Crioula e Água com Leite), funcionam como uma espécie de resumo da carreira de Jackson. O clássico Sebastiana, em gravação de 1954, é um coco no estilo que alçou Jackson ao estrelato em todo o país. Nitidamente é possível ouvir o pandeiro sincopado, quebrando o ritmo ao acentuar os tempos fracos, ao lado da sanfona, do violão, triângulo, zabumba e o inevitável corinho (que grita "A-E-I-O-U-Ypsilone"). Quatro faixas depois, Tambor de Crioula, em gravação de 1974, traz, além do regional, alguns efeitos de guitarra elétrica no mínimo curiosos – que fazem pensar em intervenções tropicalistas – e "viradas" de bateria no acompanhamento da voz de Jackson, que conserva o mesmo vigor de 20 anos antes.
Já Gordurinha pode vir a ser uma descoberta para muita gente. A começar pela faixa que abre o disco, Chiclete com Banana, parceria com – não por acaso – Almira Castilho, esposa e companheira de palco de Jackson. A versão de Gilberto Gil (do disco Expresso 2222, de 1972) celebrizou de tal forma a mistura de Miami com Copacabana que ouvir a ótima interpretação – de certa forma profética – do próprio compositor (de 1959) ganha um significado especial, em boa parte devido ao competentíssimo e suingado acompanhamento instrumental. Gordurinha teve seus maiores sucessos regravados por outros artistas nas décadas de 60 e 70. Além de Chiclete, o hilariante Mambo da Cantareira teve uma versão de Jards Macalé e a Súplica Cearense foi gravada por Luiz Gonzaga e até pela cantora Vanusa. A faceta humorista de Gordurinha (exerceu essa profissão no rádio na Bahia, em Recife e na Rádio Nacional, no Rio) aparece ainda em Baiano Burro Nasce Morto, que tem um trecho falado, com direito a risos da platéia. Uma boa combinação de talentos. (Nana Vaz de Castro)
Faixas