ENQUANTO O MUNDO GIRA
Cidade Negra / MV Bill (2000)
Crítica
Cotação:
Este não é mais um disco de artesanato pop do Cidade Negra – está implícito logo na capa, desafiadora, sem frescuras. A voz de Toni Garrido continua macia, mas a pegada de Bino, Lazão e Da Gama é outra. Guitarra, baixo e bateria agora fazem pressão na tradicional batida do reggae, mais dub do que nos outros discos de carreira, aditivado com bastante eletrônica – não chega a ser um Rappa, muito menos um Asian Dub Foundation, mas a vontade é das melhores. Podes Crer e a faixa-título (interessante, com sua cruza de batidas de drum’n bass e levada de violão) são os cartões de visita dessa nova fase da banda. O reggae resiste em Cidade Partida (parceria com a sumida Dulce Quental), A Flecha e o Vulcão e Estar Só e o funk em Chamando o Silêncio e Palavras Cortam Mais do Que Navalha. Mas sente-se um pouco mais de sujeira e de vida na gravação – o Cidade decidiu correr o risco de fazer algo não tão radiofônico quanto de costume. De certa forma, essas faixas preparam o ouvinte para o que o disco tem mesmo de radical, como o funk pesado Favela, com seu baixo distorcido e letra engajada (“As roupas na corda / representam a bandeira da favela, é/ são os ternos dos burgueses/ dependurados, secando ao sol do subúrbio”), a estranha Mobatalá (imagine uma música do Asian Dub com letra de Jorge Mautner) e A Voz do Excluído, rap sombrio com a assinatura de MV Bill – “chapa quente, favelado é o nome/ falo pelo menor que nunca teve Danone como você”. Risco é risco – e o Cidade Negra não economizou, fazendo até um voz-e-violão em Soldado da Paz (um Herbert Vianna longe do seu melhor) e uma bossa eletrônica em Cantando na Rua. Parece ter faltado um pouco de equilíbrio nesse disco, que não deixa de ser corajoso para uma banda que poderia ter continuado a fazer mais do mesmo e se dar muito bem.(Silvio Essinger)
Faixas