ENTIDADE URBANA
Fernanda Abreu (2000)
Crítica
Cotação:
Quando apeou solo da Blitz – banda abre alas do BRock 80 –, Fernanda Abreu arriscou tudo no conceito Sla Radical Dance Disco Club, em 1990. Na época, a música dançante a partir das raves começava a limpar a barra da era disco e o salto da cantora poderia ter sido mortal para quem inicia vôo solo. Dez anos depois desse tiro certeiro, a carreira de FA mudou o foco para um funk/rap/samba que neste disco incorpora algo de drum‘n’bass (Meu CEP É o Seu) e até um pop mais romântico (Paisagem de Amor). Mas o eixo do disco, que como sempre abre a janela multimídia para uma exposição de artes foto & gráficas, é o groove negro. A metralha das letras mira o ser urbano bombardeado pelas emergências da vida nos grandes conglomerados, como vomita Megalópole-Cidade: “Toda cidade é camuflagem/ do comércio pros negócios/ da eterna bandidagem”. Ou desafia Urbano Canibal: “Sou urbano canibal/ feito de carne e aço/ semente e bagaço/ plantado no asfalto/ no meio de tudo”. Ambos são funkões trepidantes trazendo impressas as digitais autorais respectivas das parcerias de Fernanda (co-autora de todas as faixas) com Fausto Fawcett (mais Fernando Vidal) e Lenine. No mesmo tema e ritmo, a ganchuda abertura Sou da Cidade (com Rodrigo Campelo e Liminha) telegrafa: “Chiclete, fruta/ mendigo, prostituta/ cada sinal/ cada ponto uma disputa”. Roda Que Se Mexe (com Campelo e Sueli Mesquita) evoca o suingão de Ben Jor e Baile da Pesada volta às pistas alistando os pioneiros Ademir, Messiê Limá e Big Boy (incluindo um “hello, crazy people” do próprio, sampleado). Fatos e Fotos (com Lucas Santtana) rebobina Alegria, Alegria de Caetano Veloso (“o que fazer com tanta notícia?”) e no xadrez poético um tanto amarrado do CD não faltam tramas dialéticas como em Zona Norte-Zona Sul> e São Paulo –SP, uma visão carioca da paulicéia, algo como um flamenguista compor um hino ao Vasco. Ou vice-versos. O funk/rap/samba de Fernanda explora seus limites. Mas a cantora/autora tem ginga de cintura para o próximo pulo estético.(Tárik de Souza)
Faixas