ESTÓRIA DE JOÃO-JOANA
Sergio Ricardo (2000)
2000
Rádio MEC
RM0001
Crítica
Cotação:
O cordel musicado de Sérgio Ricardo e Carlos Drummond de Andrade foi gravado originalmente há 15 anos sem maior repercussão. Este ano, após uma bem-sucedida apresentação no Theatro Municipal (RJ), o compositor conseguiu trazê-lo à era digital, regravando-o ao lado de grandes nomes da MPB, e dessa vez assinando também os (ricos) arranjos. O CD abre com um Aboio de Chamamento instrumental com discretos vocais de Alceu Valença. Segue Caso de Muito Ensino (a apresentação do pobre João, um dos personagens centrais do cordel), com Sérgio, Elba e Geraldinho Azevedo. A seguir, vem Gente do Miserê e Sem Mentira, ainda com Geraldinho, versando sobre a saga de João que ficou órfão e trabalhou duro para se manter. Alceu Valença aparece para entoar o repente Parada com Sertanejo, que narra a valentia do personagem. João Bosco, Elba e Telma Tavares se revezam em Fogo no Agreste, mostrando o sofrimento do protagonista ao ver a seca terrível a seu redor. Elba segue em Por Força da Natureza, alertando sobre o lado sensível de João em meio a tanta dificuldade de viver naquele ambiente. Sérgio Ricardo entoa Condição Feminina, que mostra suas reflexões ao casar-se com Joana e ter um filho. Chico Buarque canta muito bem, de forma dolente, Duas Vezes Escrava, parte do cordel que destaca a dureza de ser mulher no hostil ambiente agreste. Elba completa a letra. É a senha para que Alceu Valença resuma a triste sina dos que nascem naquela conjuntura em A Lei do Seu Mandamento. Diz a letra: "De ser homem: de escolher o seu próprio sofrimento/ E de escrever com peixeira a lei do seu mandamento/ Quando à falta de outra lei ou eu fujo ou arrebento". Telma segue com as reflexões de Joana em Apenas do Saco, a Embira. Chico e todo o elenco em coro dão o alerta, na canção Em Favor e Graça, para todos os brasileiros que têm tal destino. O próprio Sérgio encerra a história, da forma tradicional de cordel, despedindo-se e agradecendo a todos que o ouviram, De Minas ao Piauí. É um disco bem feito, bem arranjado, com ênfase nos ritmos brasileiros, e os intérpretes estão corretos. Como são 47 minutos sem interrupção, seria melhor que a parte instrumental dos trechos iniciais fossem mais enxutas, até para que o ouvinte possa se inteirar melhor da saga do cordel e não se dispersar da Estória. Em alguns momentos, o ritmo de certas canções poderia ser mais dramático. Mas isso não chega a prejudicar o conjunto, que parte de uma idéia interessante e tem o mérito de trazer de volta ao disco o sumido Sérgio Ricardo.(Rodrigo Faour)
Faixas
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