EU SOU ASSIM

Seria fácil classificar Luiza Possi - bonita, filha de pais famosos (Zizi Possi e Liber Gadelha) e superproduzida - como mais uma armação de gravadora na seara do pop adolescente, sem sequer ouvir o álbum. Quem se interessa por chatices como fichas técnicas de CDs vai ampliar o nariz torcido ao ler o nome de Rick Bonadio como piloto da produção. Desconte os preconceitos e ouça o disco. Fato inegável: não há nada em Eu Sou Assim que o diferencie de tantos outros lançamentos na empobrecida seara pop brazuca. Não que a filha de Zizi possa ser atirada na vala comum sem reparos. Ela canta bem, sem forçar a barra para o lado infantilóide, nem para o pseudo-r'n'b de programa de calouros. Os arranjos (dominados por violões, mais grooves eletrônicos um tanto plastificados) são pobrinhos mas honestos. Mas o problema é mais sutil, e ao mesmo tempo mais óbvio. No afã de enquadrar Luiza em uma disputa congestionada por kellys, jacks e quests, sugou-se toda e qualquer personalidade e criatividade que a moça pudesse ter. Para fazer de Eu Sou Assim um produto o mais palatável possível, optou-se por deixar o disco o mais anódino possível.

Cantando rock (no hit Dias Iguais) ou baladinha (Quanta Dor), Luiza sobra no disco, muito superior à instrumentação, ao estilo da produção ou à mirrada criatividade das composições. Que, aliás, não fogem do esquema de alternar baladinhas românticas com popzinhos mais balançados, recorrendo-se ao inevitavel expediente de puxar versões internacionais. Mas não adianta colocar funkinho de FM (Eu Sou Assim) ou resgatar sucessos popularescos (Retratos e Canções) se não deixam a artista respirar. Liberdade para Luiza - afinal, ela é assim, mas pode ser ainda mais. (Marco Antonio Barbosa)