FÊMEAS

Wando não é mole não. (Sem trocadilho.) Dentro de seu estilo, o brega-erótico, o cara é inimitável, um verdadeiro monstro (desta vez, com trocadilho). Usando e abusando do romantismo moteleiro nas letras - e caprichando na sacarina nos arranjos clichêzentos - o cara tem a imbatível virtude da coerência. Infelizmente, o nada memorável repertório deste álbum, com nove entre 14 músicas assinadas pelo próprio cantor, não está à altura do legado do criador de Coisa Cristalina. Não que faça alguma diferença para as fãs, já que a estética consagrada continua lá, firme e forte.

Em diversos graus de inocuidade, as bobagens românticas de Wando enchem o disco. O cantor até pega uma rápida carona na onda do forró (Forrozinho de Amor), mas no geral só faz repetir, sem muitas variações, o modelo consagrado por ele mesmo. Chega a ser delicioso ouvir o desfile de pérolas da cafajestagem explícita como as contidas em A Amiga da Minha Mulher, Nossa Senhora das Fêmeas ou Boca de Açúcar. Entre os lençóis, duas criações um tiquinho mais sóbrias de Altay Velloso (Quando Eu Digo Te Amo e Avassalador) quase se perdem, ao ganhar o mesmo tratamento das outras: tecladinhos edulcorados, aquele saxofone marreta, percussão de leve inspiração - e canastrice - latina... Assim, fica fácil para que dois covers ganhem a dianteira como melhores faixas do disco. Ternura, clássico da Jovem Guarda, também vai para a cama com Wando. Mas a velhusca Rua Ramalhete fica melhor, em uma versão que nem chegou a ficar ruim (e não é que a letra até tem a ver com a estética dele - quem mais poderia cantar "Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido" sem corar?)(Marco Antonio Barbosa)