FRONTEIRAS

A sonoridade de um bom quinteto de sopros é tão estonteante e rica que até parece fácil escrever para essa formação. Mas não é. Escrever para um conjunto de flauta, oboé, clarineta, trompa e fagote fugindo das obviedades e soluções "fáceis" é, na verdade, um desafio para arranjadores e compositores. Com largo trânsito entre o popular e o erudito, o Quinteto Villa-Lobos explora neste CD, apropriadamente intitulado Fronteiras, toda a habilidade de arranjadores que vêm se destacando neste campo. Com formação teórica e muita prática "chorona", Marcílio Lopes, Jayme Vignoli, Maurício Carrilho e Josimar Carneiro, que assinam cinco dos arranjos do disco, vêm ampliando seu espectro de atuação e transformando o arranjo brasileiro em uma prática de excelência musical rara. Fazem isso transpondo a aliança entre virtuosismo e liberdade de improvisação, típica do choro, para um ambiente diferente mas ainda mais fértil em possibilidades. Músicas de forte caráter violonístico como Di Menor e Cheio de Dedos, ambas de Guinga, por exemplo, ganham um colorido absolutamente feliz e apropriado nos arranjos de Marcílio e Jayme, respectivamente. Menos envolvido no meio chorístico mas igualmente experiente em outras bossas, Jaques Morelenbaum assina o arranjo de Suíte Norte-Sul-Leste-Oeste, de Hermeto Pascoal. Passando para a parte das composições feitas especialmente para a formação, Cantos da Vida (Gilson Peranzzetta) é uma transposição escandalosamente bela do universo pianístico do compositor, que emociona com seu início no registro grave do fagote e principalmente com o tema muito inspirado, executado pela primeira vez por um solo de trompa. Do lado de lá da "fronteira", mas na verdade sem marcar muita diferença, o Quinteto acolhe compositores contemporâneos da música erudita brasileira. Os Embalos de Edino Krieger dividem-se em Balanço e Breque, Ser ou Não Seresta e Choro Canônico, este último uma rápida e divertida brincadeira entre os instrumentos, que acaba em inesperado uníssono na nota final. Fronteiras, de Ronaldo Miranda, traz um ambiente mais tenso e menos descontraído que o resto do CD, e os quatro movimentos do Quinteto de Kaplan é uma mistura de brasileirices: fanfarra de bandas de coreto, baião estilizado, choro moderno. O Quinteto Villa-Lobos, formado por músicos de intensa atividade como solistas e professores, demonstra mais uma vez a importância de seu trabalho, de sua pesquisa, de seu cuidado no tratamento de cada nota. O resultado se traduz no prazer estético proporcionado pela audição.

Junto com Fronteiras, o Quinteto relança agora pela Kuarup o CD Quinteto em Forma de Choros, gravado em 1997 para comemorar seus 35 anos de existência, com repertório especialmente escrito para o conjunto. Contatos pelo e-mail contato@quintetovillalobos.com.br (Nana Vaz de Castro)