GIL E MILTON
Milton Nascimento / Gilberto Gil (2000)
Crítica
Cotação:
Seria até normal esperar que um encontro tão significativo para a música popular brasileira, como o de Gilberto Gil e Milton Nascimento, fosse comemorado com uma monumental megaprodução. Felizmente, a maturidade dos 60 anos, de que já se aproximam de ambos, parece ter levado o baiano e o mineiro (honorário) a priorizarem a espontaneidade e as afinidades musicais em vez da pompa. Não por acaso, a delicada Bom Dia (“acorda meu amor / é hora de trabalhar / o dia já raiou / é hora de trabalhar”), de Gil e Nana Caymmi, foi a primeira canção do repertório escolhida pela dupla. Outros momentos de simplicidade se sucedem, como as belíssimas versões dos sambas-canções Maria e Dora, com destaque para os sensíveis arranjos de cordas e metais de Gil Jardim. Ou ainda as inéditas Dinamarca (“saudades, sim / o mar tem de si / o mar triste e só / depois do dia que tu partistes, ó”) e Trovoada, ambas assinadas pela dupla. Isso não quer dizer que, ao enveredar por caminhos musicais e sentimentais que ligam Minas à Bahia, Milton e Gil só trafeguem por estradas melancólicas ou tristes. Das saltitantes versões do Baião da Garoa e de Xica da Silva à gingada Sebastian (outra inédita da dupla), Gil e Milton demonstram vigor e alegria. Sem falar na inédita Lar Hospitalar (“não vou fazer seu coro, seu sermão / a não ser que você possa instalar / o chip da ignorância em minha cuca / a não ser que você consiga me reprogramar”), um rock irônico e bem-humorado, em que o circunspecto Milton chega a imitar a voz roufenha de Louis Armstrong. Na certa, a presença de Sandy & Júnior, na sertaneja Duas Sanfonas (outra inédita dos donos do álbum), vai dar o que falar, mas a singeleza dessa canção, seguida à risca pelo arranjo com as devidas sanfonas, acaba legitimando a aparição da dupla teen. Nada que chegue a comprometer a beleza íntegra desse tão esperado encontro musical.(Carlos Calado)
Faixas