INFIERNO

Infierno (2001)

2001
Orbita Music
Crítica

Cotação:

O Brasil já tem nu-metal. Melhor dizendo: o mundo já tem nu-metal com cara e sotaque brasileiros. É o que pode se depreender do disco de estréia do grupo Infierno, que apesar de rezar pela pesadíssima fé do novo heavy (ou alterna-metal, ou metal-Adidas, ou qual seja o nome da semana) faz questão de inserir sutilezas não exatamente deslocadas em seu som. O troço é pesado, partindo da sonoridade das matrizes importadas. Leia-se guitarras e baixo em afinações ultragraves, vozes guturais entoando versos apocalípticos, influências do hip hop (nas levadas de bateria e nas melodias vocais) e do rock industrial (na barulheira e no clima fim-de-mundo). Mas o Infierno não se limita a copiar os figurões do estilo e enxerta entre a porradaria pinceladas de, digamos, etnicidade. A música do quarteto ganha contornos de um world music metal, talvez uma evolução das misturebas do Sepultura (influência confessa) em Roots.

A pista é dada quando sabe-se que o guitarrista André Moraes colaborou com Andreas Kisser (Sepultura) na trilha sonora do filme No Coração dos Deuses - que mesclava peso e sonoridades indígenas. O álbum do Infierno amplia esta proposta e passeia por vários lugares com sua música. Apenas uma ou outra faixa aposta no nu-metal puro, como é o caso de Contato, conduzida por pesada batida hip hop e ruídos sintetizados. O forte da banda é mesmo o sincretismo rítmico-harmônico, entremeado à pancadaria. Nesse esquema, há espaço para sons árabes (que introduzem Labirinto), batucadas de samba (na apopriadamente intitulada Brasil) e até complexos acordes que remetem à viola sertaneja, misturados a uma batida galvanizante, na boa 7. O berimbau marca presença em Capoeira e na vinheta Revolta. E para mostrar que eles não têm medo de medalhão, atacam até um cover de Construção (Chico Buarque), marcado por um saudável desrespeito: começa sutil e descamba para um turbulento pesadelo de guitarras distorcidas e vocais monstruosos.(Marco Antonio Barbosa)
 
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