JOHNNY ALF - 2 LPS EM 1 CD
Johnny Alf (2001)
Cotação:
Pioneiro indiscutível da bossa nova, o carioca Alfredo José da Silva, o Johnny Alf pagou por seu vanguardismo. Quando estreou no LP, Rapaz de Bem, de 1961 (acoplado neste CD ao disco seguinte, Diagonal, de 1964), João Gilberto já tinha lançado os três LPs que fixaram a sintaxe da bossa, incluindo a célebre batida de violão que levou os bateristas a explorarem o tempo fraco. Alf debutou atado a orquestrações do maestro/trombonista Nelsinho ainda ligadas ao anterior estilo sambalanço. O compositor/cantor manda seu piano revolucionário nas faixas Feitiçaria (Custódio Mesquita/ Evaldo Ruy), O Que É Amar, Fim de Semana em Eldorado e Tudo Distante de Mim (todas do próprio Alf), mas a escrita grandiloqüente de metais e o peso dos violinos maciços ainda discordam do intimismo sugerido pelo intérprete e suas composições, aí incluído o megaclássico Rapaz de Bem, escrito em 1953 quando a bossa nova ainda nem estava no forno.
Tudo muda no segundo disco, com arranjos e regências arrojados do organista e pianista Celso Murilo. A começar por sua concepção da utilização do órgão (hoje revalorizada pelo estilo ambiental lounge) em faixas como Desejo do Mar, arrasadora balada cartão de visita da dupla Marcos & Paulo Valle, além da balançadíssima Vejo a Tarde Cair (Tita/ Edwiges) e da clássica Moça Flor (Durval Ferreira/ Luis Fernando Freire). A lamentar a exclusão da contracapa elucidativa do crítico Sylvio Tulio Cardoso (assinando sob o pseudônimo de Sérgio Lobo) com comentários sobre cada faixa, como a da belíssima Disa, que transcrevo: "samba-lento de Alf e Maurício, contém um diáfano e enviezado vocal de J.A., bucólico solinho de Jorginho à flauta e vigorosa e ajustadíssima pontuação dos cinco pistons. Observem a originalíssima marcação (trinária) do baixista Luis Marinho." A lamentar também o erro no título da suingadíssima O Céu, Você (do recém falecido Luis Bonfá e Maria Helena Toledo) grafado Céu É Você.
No mais, é surfar no vocal - realmente - Diagonal (como quer a faixa título, num jogo de scats superpostos) de Alf, o desenho agressivo de sopros em naipes (além de admiráveis solos do trombonista Macaxeira em Bondinho do Pão de Açucar e de Julinho no trompete em Moça Flor) e principalmente nos press rolls da bateria condutora de Edson Machado. Seu uso de pratos no marulhar de Desejo do Mar não deixa pra ninguém. Como os discos são conjugados (totalizado 21 faixas) não há como evitar a divisão na cotação. Duas estrelas para o Alf com recheio de sambalanço e quatro para o bossanovista devastador. Média: três.
(Tárik de Souza)