LENY ANDRADE CANTA ALTAY VELOSO
Altay Veloso / Leny Andrade (2000)
Crítica
Cotação:
Leny Andrade é uma grande guerreira na MPB. Sobreviveu nos últimos 20 anos sem se vincular a grandes gravadoras e viu seu prestígio crescer quando investiu na carreira internacional, apresentando-se anualmente nos maiores festivais de jazz do planeta. Seu repertório sempre foi irrepreensível, alternando bossa nova jazzística com algumas canções derramadas e boleros. De repente, ela surpreende a todos e faz um CD apenas com sambas de Altay Veloso – compositor fluminense que ultimamente vem freqüentando os discos dos mais variados grupos de pagode que se possa imaginar. Preconceitos de lado, Altay e seus parceiros têm uma obra de letras recitativas com um sabor bem suburbano, popular, que se por vezes convence pela sinceridade, por outras é puramente piegas. Uma ou outra canção diluída num disco de composições de vários intérpretes pode soar interessante, mas ao gravar 14 canções de Altay, o disco de Leny apenas mostra o quão repetitiva melodicamente é a obra de Altay. A cantora e sua banda – com os ótimos João Carlos Coutinho (piano) e Lúcio Nascimento (baixo) à frente – fazem misérias para sofisticar canções ultrapopulares como Bom Dia ("Te acordar devagarinho, bolinar no teu umbigo como ontem teu desejo fez comigo"), Todo Cuidado É Pouco ("quando se trata de paixão"), Quinto Segredo ("No quinto dedo não há segredo/ Todo mundo sabe que eu nasci só pra te amar"). Em vão. Isso sem contar as canções de Altay com as letras escalafobéticas de Paulinho Feital, como 40 Anos e Brasil de Oliveira da Silva do Samba (que mais parecem uma imitação do estilo de Aldir Blanc e Nei Lopes). À exceção de Corrente do Samba – essa sim, boa parceria com Feital, sendo a melhor e mais jazzística faixa do disco – nem todo sapo vira príncipe, por mais que a produção seja esmerada. Algumas faixas, no entanto, valem pela curiosidade de ver como uma excelente intérprete pode salvar canções menores. Da mesma forma como Alcione, em seu CD-tributo aos neopagodeiros (Valeu, 1997), conseguiu tornar audíveis pagodinhos populares como Timidez, Telegrama e Valeu Demais, Leny transforma em pérolas semipreciosas canções de teor brega, como O Porteiro ("Mas o porteiro é novo, ele não me conhece/ Tá cheio de suspeita, tá desconfiado/ Pega o interfone, liga pra ele/ Que ele está falando com sua namorada/ Já são altas horas mas se a saudade não quer deixar a gente dormir sossegado/ É melhor eu subir, te amar/ E dormir ao seu lado"). Brega, pero bem feita e bem cantada. O mesmo ocorre com Absoluta ("Não faz assim que o ciúme é traiçoeiro e faz o amor maneiro se acabar") e Dez a Um ("Por isso é que o corpo da gente tá pegando fogo/ E a razão da gente tá perdendo o jogo/ E a emoção da gente dá de dez a um") também foram salvas por Leny. Seu anunciado disco de boleros que está gravando na Venezuela certamente a fará voltar à seara dos álbuns clássicos, como sempre.(Rodrigo Faour)
Faixas