LIVRO-MÃE
Flavia Virginia (2001)
Crítica
Cotação:
Flávia Virginia é a artista reunida desgarrada. Assim como a patota que agrupa Max de Castro, Simoninha, Jairzinho Oliveira, Luciana Mello e Pedro Mariano, a moça é filha de um medalhão da MPB (Djavan) e também trafega com desenvoltura pelo lado mais black da música brasileira. Só que a comparação se esgota aí, pois em seu disco de estréia, Flávia Regina demonstra não se alinhar com praticamente coisa alguma na MPB contemporânea. Cantora de boa voz e produtora eficiente (produziu e arranjou todas as faixas), Flávia também demonstra ser uma compositora a um só tempo original - pois escapou da enorme sombra da musicalidade paterna -, eclética e com uma grande capacidade de desarmar expectativas.
Resumindo a ópera, Flávia transita entre a influência da música negra americana e as vertentes mais balançantes de nossa MPB. Mas a moça não fica só neste resumo. Ela já abre o álbum com uma inesperada balada chamada, bem, A Balada - de construção intrincada, com um pé no blues e outro na dramaticidade do samba-canção ancestral. Para sacudir a massa, ela ataca de funk-soul "de gente grande", como em Sinuca; o balanço prossegue com Difícil, e assume tons de latinidade em Sangria. O álbum faz uma rápida cruza entre Nova Orleans e Juazeiro na mistura de baião e jazz em Amaralina, mesclados de forma fluída e sofisticada. Há mais pinceladas de jazz em Amado de Papel, contrapondo um sutil suingue de baixo/bateria com fraseados de clarineta. E a cantora viaja mais uma vez, agora para a Península Ibérica, na emotividade rasgada de Praça da Espanha. O estilo de harmonia tão característico das composições de papai Djavan dá as caras em De Avião, mas o próprio só aparece mesmo em Crescendo, cantando junto à filha uma melodia complexa e bela.
É raro ver uma cantora estreando de forma tão madura e inteligente, exibindo uma musicalidade rica e totalmente pessoal - uma dádiva entre tantas fornadas de "cantoras ecléticas" com muita técnica e nenhuma estética própria. Melhor ainda é ver como o caminho artístico de Flávia se fez por si só, sem pegar (quase) nada emprestado do som de papai Djavan. Poderia bem ser um modelo para a nova geração de intérpretes. (Marco Antonio Barbosa)
Resumindo a ópera, Flávia transita entre a influência da música negra americana e as vertentes mais balançantes de nossa MPB. Mas a moça não fica só neste resumo. Ela já abre o álbum com uma inesperada balada chamada, bem, A Balada - de construção intrincada, com um pé no blues e outro na dramaticidade do samba-canção ancestral. Para sacudir a massa, ela ataca de funk-soul "de gente grande", como em Sinuca; o balanço prossegue com Difícil, e assume tons de latinidade em Sangria. O álbum faz uma rápida cruza entre Nova Orleans e Juazeiro na mistura de baião e jazz em Amaralina, mesclados de forma fluída e sofisticada. Há mais pinceladas de jazz em Amado de Papel, contrapondo um sutil suingue de baixo/bateria com fraseados de clarineta. E a cantora viaja mais uma vez, agora para a Península Ibérica, na emotividade rasgada de Praça da Espanha. O estilo de harmonia tão característico das composições de papai Djavan dá as caras em De Avião, mas o próprio só aparece mesmo em Crescendo, cantando junto à filha uma melodia complexa e bela.
É raro ver uma cantora estreando de forma tão madura e inteligente, exibindo uma musicalidade rica e totalmente pessoal - uma dádiva entre tantas fornadas de "cantoras ecléticas" com muita técnica e nenhuma estética própria. Melhor ainda é ver como o caminho artístico de Flávia se fez por si só, sem pegar (quase) nada emprestado do som de papai Djavan. Poderia bem ser um modelo para a nova geração de intérpretes. (Marco Antonio Barbosa)
Faixas