LOA DO BOI MEIA-NOITE

Formado em Recife em 1995, à base de sanfona, triângulo e zabumba, o grupo Chão e Chinelo seguia a tradição da urbanização dos ritmos nordestinos sedimentada por Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. O caminho trilhado por outros grupos como Mestre Ambrósio e Cascabulho deu uma guinada com a entrada da guitarra de tintas psicodélicas de Niltinho (também interessado em música indígena, ruidos eletrônicos e tribais) e a rabeca do mestre de maracatu Maciel (filho de mestre Salustiano, referencial de Chico Science). Esse arrasta-pé (daí o nome do grupo) turbinado (sem afastar-se dos cânones) sacode Loa do Boi da Meia-Noite entre cocos arretados e maracatus. Integrado ainda por Caçapa (viola nordestina, percussão e voz), Márcio Costa (pandeiro, trombone e percussão), Gustavo (pandeiro, mineiro – um ganzá gigante – e backing vocal), Guilherme (tambor, triângulo, maraca e backing), o Chão e Chinelo ressalta antecedentes como o lendário coquista Chico Antonio, descoberto pelo folclorista e escritor Mário de Andrade a quem é dedicado Coco de Fulô Rodado. Tumbado com coro de resposta e guitarra zoando no suporte, Chã de Camará vai para o Maracatu de Baque Solto Estrela de Ouro. O percussionista Gustavo chega ao requinte de vestir um tradicional surrão, roupa de maracatu rural com sinos na barra, que ele utiliza como instrumento rítmico. A instrumental E Eu Correndo Atrás de Tu destaca o diálogo de zabumba e pandeiro com a rabeca no serrote melódico. O tratamento dos temas é cru e aliciante (Lá no Forró de Zé Dantas, Machadeiro, Coco de Joana) e nem uma pitada de populismo (em Forró pra Todas as Idades) desarma o impacto da mistura. O disco do Chão e Chinelo pode ser adquirido com Niltinho (xx 81 428 4777) ou Márcio (xx 81 445 6964).(Tárik de Souza)