MAIS DEMÔNIOS QUE NUNCA
Demônios da Garoa (2000)
Crítica
Cotação:
Desde que começou a gravar no início dos anos 50, o Demônios da Garoa foi o melhor intérprete dos sambas paulistas com sotaque italianado. Criou um estilo próprio, que retratava com muito humor os dissabores da vida dos filhos de imigrantes italianos pobres, que habitavam os bairros da periferia paulista. Foram seus integrantes que criaram o sotaque peculiar para interpretar as músicas de Adoniran Barbosa. A princípio, o próprio autor não gostou da idéia. Porém, com o sucesso de Saudosa Maloca e Samba do Arnesto, em 1955, o Poeta do Bixiga foi obrigado a mudar de idéia, e também passou a incorporar o tal sotaque. Pois no novo CD do grupo, Mais Demônios do Que Nunca, eles voltam a homenagear seu padrinho musical, Adoniran, mas com apenas dois componentes da formação original – Toninho e Arnaldo. Lamentavelmente, o primeiro faleceu logo depois da gravação do CD. Embora o repertório traga apenas jóias pouco conhecidas de Adoniran, parte do charme original do conjunto se perdeu, se formos comparar com as gravações originais do próprio Demônios há 30, 40 ou mais anos atrás, na Odeon, RCA e Chantecler. Mesmo assim, o uníssono de suas vozes ainda convence. Resta, pois, a oportunidade de ouvir novamente os deliciosos sambas de Adoniran, que são ao mesmo tempo engraçados e melancólicos. Caso de Apaga o Fogo Mané, Luz da Light, Conselho de Mulher (Pogréssio), Prova de Carinho, Uma Simples Margarida (Samba do Metrô) e da obscura (e melhor faixa do CD) Tadinho do Home ("Encontremos o homem caído no chão/ Pensemos que ele tinha bebido/ Por isso que ele tava caído/ Mas acontece que o homem tinha morrido/ E nos fiquemos sem saber o que fazer/ Fumos correndo escuitar os reporter da TV/ Como foi que aconteceu?/ De que que foi que aquele homem morreu?/ Morreu de pelemolia/ Tadinho do home!"). O grande mérito deste disco é fazer com que a nova geração saiba que o samba paulista já foi mais original do que aquele hoje difundido nas FMs do país.
(Rodrigo Faour)
Faixas