MAURICIO CARRILHO
Maurício Carrilho (2000)
Crítica
Cotação:
Mauricio Carrilho nasceu e cresceu no choro. Sobrinho de Altamiro Carrilho e filho de Álvaro, dois flautistas de fina estirpe, desde cedo se interessou mais pelas cordas do violão do que pelos sopros da flauta. Na década de 70 já participava do conjunto Os Carioquinhas ao lado dos irmãos Luciana e Raphael Rabello. Especializou-se no violão de sete cordas tendo como mestres as duas maiores referências no instrumento: Dino 7 Cordas e Jayme Florence, o Meira. Não parou mais de tocar, sempre ao lado de gente fina como Elizeth Cardoso, Chico Buarque, Francis Hime, Paulinho da Viola e mais um sem-número de grandes músicos.
Apesar de compor (e bem) há tempos, Mauricio só havia gravado um LP, em 1985, com suas parcerias com João de Aquino. Junto com a amiga Luciana Rabello fundou, em 1999, a Acari Records – primeira gravadora especializada em choro –, que agora lança o primeiro CD solo do violonista, direto do seu estúdio no bairro carioca de Acari. A produção é caprichadíssima, mas engana-se quem pensa que se trata de um disco exclusivamente de choro. Tem muito choro, sim, e da melhor qualidade, mas a versatilidade de Mauricio e do time que o acompanha praticamente o obrigou a adotar outros gêneros, se não tipicamente brasileiros, tipicamente abrasileirados, como a polca, a valsa, a quadrilha e o schottish. Pra começar, a primeira faixa, Serenata pro Pilger, começa com um inspirado solo de violoncelo (do homenageado, o violoncelista gaúcho Hugo Pilger) que faz com que o ouvinte até se levante para ver se colocou o disco certo para tocar. Mas logo caracteriza-se a serenata, suave, com direito a solos de flauta, clarineta e violino. Um ótimo começo, que em seguida pega fogo com o empolgado Choro Cubano, que no elaborado arranjo finaliza com microssolos de quatro compassos para cada um dos oito instrumentos (pandeiro, violão, cavaquinho, baixo, clarinete, flauta, violino e cello). E o time não é pouca coisa, vai de Bernardo Bessler no violino ao "mago" multiinstrumentista Arismar do Espírito Santo no contrabaixo, passando pelo talento inegável do clarinetista Cristiano Alves.
Muito interessante é a quadrilha composta por Mauricio, intitulada Um Baile em Villa-Boa, antigo nome da Cidade de Goiás, que foi capital daquele estado até 1937, antes de Goiânia. Como diz o texto do encarte, "há muito tempo não se fazia uma quadrilha no Brasil. Talvez uns 80 anos". A quadrilha de Mauricio não foge ao esquema tradicional que seduziu Chiquinha Gonzaga (1847-1935) e Joaquim Callado (1848-1880), principais nomes do gênero. Callado, aliás, com suas quadrilhas, foi gravado e lançado pela Acari no ano passado, através da flauta de Leonardo Miranda. Leonardo também participa aqui na polca dedicada a ele, Leonardo na Polca. E as homenagens não param por aí. O bandolinista Joel Nascimento é o tema de outra polca, a inusitada O Turbante do Joel; "tio" Altamiro Carrilho é enredo e protagonista de Tio Tamiro na Farra; e Anacleto de Medeiros é lembrado no schottish lento Luzeiro de Paquetá. Há ainda uma valsa (Sinuosa) e três choros, Proveta na Madrugada, feita para o saxofonista Nailor Proveta, Um Choro pra Anna, dedicado à mulher de Mauricio, Anna Paes, e Lulu Espinafrando, para Luciana Rabello, famosa por suas broncas nada sutis – quando há motivo, é claro. Nesta última, especialmente interessante é ouvir o diálogo entre o cavaquinho de Luciana e o bandolim de Pedro Aragão. O "confronto" é quase didático, explicitando a diferença de timbre que existe entre os dois instrumentos – freqüentemente confundidos, diga-se de passagem. Os convidados e homenageados são tantos que, na verdade, quem menos aparece é o violão de Mauricio Carrilho. Mas este todo mundo já conhece e sabe que é bom. Agora é a chance de conhecer o compositor. Quem não encontrar nas lojas, pode comprar o CD pelo site da Acari: www.acari.com.br (Nana Vaz de Castro)
Apesar de compor (e bem) há tempos, Mauricio só havia gravado um LP, em 1985, com suas parcerias com João de Aquino. Junto com a amiga Luciana Rabello fundou, em 1999, a Acari Records – primeira gravadora especializada em choro –, que agora lança o primeiro CD solo do violonista, direto do seu estúdio no bairro carioca de Acari. A produção é caprichadíssima, mas engana-se quem pensa que se trata de um disco exclusivamente de choro. Tem muito choro, sim, e da melhor qualidade, mas a versatilidade de Mauricio e do time que o acompanha praticamente o obrigou a adotar outros gêneros, se não tipicamente brasileiros, tipicamente abrasileirados, como a polca, a valsa, a quadrilha e o schottish. Pra começar, a primeira faixa, Serenata pro Pilger, começa com um inspirado solo de violoncelo (do homenageado, o violoncelista gaúcho Hugo Pilger) que faz com que o ouvinte até se levante para ver se colocou o disco certo para tocar. Mas logo caracteriza-se a serenata, suave, com direito a solos de flauta, clarineta e violino. Um ótimo começo, que em seguida pega fogo com o empolgado Choro Cubano, que no elaborado arranjo finaliza com microssolos de quatro compassos para cada um dos oito instrumentos (pandeiro, violão, cavaquinho, baixo, clarinete, flauta, violino e cello). E o time não é pouca coisa, vai de Bernardo Bessler no violino ao "mago" multiinstrumentista Arismar do Espírito Santo no contrabaixo, passando pelo talento inegável do clarinetista Cristiano Alves.
Muito interessante é a quadrilha composta por Mauricio, intitulada Um Baile em Villa-Boa, antigo nome da Cidade de Goiás, que foi capital daquele estado até 1937, antes de Goiânia. Como diz o texto do encarte, "há muito tempo não se fazia uma quadrilha no Brasil. Talvez uns 80 anos". A quadrilha de Mauricio não foge ao esquema tradicional que seduziu Chiquinha Gonzaga (1847-1935) e Joaquim Callado (1848-1880), principais nomes do gênero. Callado, aliás, com suas quadrilhas, foi gravado e lançado pela Acari no ano passado, através da flauta de Leonardo Miranda. Leonardo também participa aqui na polca dedicada a ele, Leonardo na Polca. E as homenagens não param por aí. O bandolinista Joel Nascimento é o tema de outra polca, a inusitada O Turbante do Joel; "tio" Altamiro Carrilho é enredo e protagonista de Tio Tamiro na Farra; e Anacleto de Medeiros é lembrado no schottish lento Luzeiro de Paquetá. Há ainda uma valsa (Sinuosa) e três choros, Proveta na Madrugada, feita para o saxofonista Nailor Proveta, Um Choro pra Anna, dedicado à mulher de Mauricio, Anna Paes, e Lulu Espinafrando, para Luciana Rabello, famosa por suas broncas nada sutis – quando há motivo, é claro. Nesta última, especialmente interessante é ouvir o diálogo entre o cavaquinho de Luciana e o bandolim de Pedro Aragão. O "confronto" é quase didático, explicitando a diferença de timbre que existe entre os dois instrumentos – freqüentemente confundidos, diga-se de passagem. Os convidados e homenageados são tantos que, na verdade, quem menos aparece é o violão de Mauricio Carrilho. Mas este todo mundo já conhece e sabe que é bom. Agora é a chance de conhecer o compositor. Quem não encontrar nas lojas, pode comprar o CD pelo site da Acari: www.acari.com.br (Nana Vaz de Castro)
Faixas