MELODIAS DE UMA ESTRELA FALSA

Astromato (2000)

2000
Midsummer Madness
Crítica

Cotação:

Um grande salto em relação às chamadas guitar bands nacionais: o Astromato, de Campinas, compõe e canta em português. Mesmo assim, a coisa continua sendo mais ou menos como na época da jovem guarda, só mudam os modelos. Saem Beatles, Herman Hermits, The Hollies e demais nomes da british invasion dos 60, entram bandas dos 80-90: Teenage Fanclub, Jesus & Mary Chain, Ride, Pixies etc. Em seu disco de estréia, Melodias de um Estrela Falsa, os rapazes foram bem aplicados na assimilação sonora, com suas guitarras ríspidas e vigorosas, as melodias vocais sessentistas bem harmonizadas e as batidas simples, com algum pandeiro aqui, alguma eletrônica lá. É um padrão que, sonham os aficionados, poderia driblar as barreiras das AMs e FMs no Brasil - cantando em português, Penélope e Los Hermanos conseguiram o feito. Mas ao contrário desses, o Astromato não tem assim o que se pode chamar de facilidades temáticas - isto é, romantismo - em suas letras. Quase tudo sobre o que os rapazes cantam no disco é tédio, tédio e mais tédio adolescente - algo que constrangeria até mesmo o Biquini Cavadão nos bons tempos. Uma das músicas, por exemplo, se chama No Macio, No Gostoso, descarada ode à preguiça, que fala sobre a dureza que é levantar da cama. Preocupações mais sérias são expressas em Qualquer Outra Bobagem: "não quero parar de escrever todas essas bobagens/ mas talvez não fosse tão ruim/ se de repente eu começasse a pensar em ganhar dinheiro/ um monte de dinheiro ou qualquer outra bobagem". O personagem astromatiano é evidentemente um deslocado - quem duvidar então, que preste atenção a Não Sei Jogar: "mas eu não jogo futebol/ e nem baralho eu sei jogar/ todo mundo joga e eu só sei olhar/ porque eu só bato bola com você". Talvez em busca de um pouco mais de consistência poética, a banda recorre a poemas de Fernando Pessoa para letrar as canções Isto e Onda. Não precisava, porque quando ela deixa de lado as elucubrações sobre a falta do que fazer, consegue até escrever algo interessante. O quê? A última faixa, a estranha Cadeialimentar ("e até mesmo eu quando cair pra nunca mais voltar/ não vou escapar/ terra me envolvendo, bichos me comendo/ rosas, margaridas, girassóis, formigas/ a morte gera vida, o mundo se recicla"). Agora que completou sua aventura indie de lançar um disco, o Astromato pode começar a pensar em passos mais ambiciosos. O próximo CD, com certeza, promete.(Silvio Essinger)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Sonhos de alta definição Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
2 Panorâmica Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
3 No macio, no gostoso Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
4 Qualquer outra bobagem Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
5 Isto Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
6 Através da chuva Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
7 Aqui Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
8 Canção do adolescente Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
9 Onda Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
10 Não sei jogar Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
11 Só não sabe disso Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
12 Ter uma canção Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
13 Acaso Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
14 As coisas do sol Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
15 Boçal dúvida existencial Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
16 Sem saber Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
17 Cadeialimentar Ouvir
(Armando, Pedro, Fabrício)
 
MELODIAS DE UMA ESTRELA FALSA