MELODIAS DE UMA ESTRELA FALSA
Astromato (2000)
2000
Midsummer Madness
mmcd05
Crítica
Cotação:
Um grande salto em relação às chamadas guitar bands nacionais: o Astromato, de Campinas, compõe e canta em português. Mesmo assim, a coisa continua sendo mais ou menos como na época da jovem guarda, só mudam os modelos. Saem Beatles, Herman Hermits, The Hollies e demais nomes da british invasion dos 60, entram bandas dos 80-90: Teenage Fanclub, Jesus & Mary Chain, Ride, Pixies etc. Em seu disco de estréia, Melodias de um Estrela Falsa, os rapazes foram bem aplicados na assimilação sonora, com suas guitarras ríspidas e vigorosas, as melodias vocais sessentistas bem harmonizadas e as batidas simples, com algum pandeiro aqui, alguma eletrônica lá. É um padrão que, sonham os aficionados, poderia driblar as barreiras das AMs e FMs no Brasil - cantando em português, Penélope e Los Hermanos conseguiram o feito. Mas ao contrário desses, o Astromato não tem assim o que se pode chamar de facilidades temáticas - isto é, romantismo - em suas letras. Quase tudo sobre o que os rapazes cantam no disco é tédio, tédio e mais tédio adolescente - algo que constrangeria até mesmo o Biquini Cavadão nos bons tempos. Uma das músicas, por exemplo, se chama No Macio, No Gostoso, descarada ode à preguiça, que fala sobre a dureza que é levantar da cama. Preocupações mais sérias são expressas em Qualquer Outra Bobagem: "não quero parar de escrever todas essas bobagens/ mas talvez não fosse tão ruim/ se de repente eu começasse a pensar em ganhar dinheiro/ um monte de dinheiro ou qualquer outra bobagem". O personagem astromatiano é evidentemente um deslocado - quem duvidar então, que preste atenção a Não Sei Jogar: "mas eu não jogo futebol/ e nem baralho eu sei jogar/ todo mundo joga e eu só sei olhar/ porque eu só bato bola com você". Talvez em busca de um pouco mais de consistência poética, a banda recorre a poemas de Fernando Pessoa para letrar as canções Isto e Onda. Não precisava, porque quando ela deixa de lado as elucubrações sobre a falta do que fazer, consegue até escrever algo interessante. O quê? A última faixa, a estranha Cadeialimentar ("e até mesmo eu quando cair pra nunca mais voltar/ não vou escapar/ terra me envolvendo, bichos me comendo/ rosas, margaridas, girassóis, formigas/ a morte gera vida, o mundo se recicla"). Agora que completou sua aventura indie de lançar um disco, o Astromato pode começar a pensar em passos mais ambiciosos. O próximo CD, com certeza, promete.(Silvio Essinger)
Faixas
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