MELOPÉIA: SONETOS MUSICADOS
Vários Intérpretes (2001)
2001
Rotten Records
RTTR 2014
Crítica
Cotação:
Tendo sido reverenciado até por Caetano Veloso - na música Língua, o poeta Glauco Mattoso atuou em todas as áreas, desde divulgando suas taras podólatras, sendo um punk pioneiro no Brasil (com seu personagem Pedro, O Podre) , misturando-se com a cena skinhead de São Paulo (porém pregando o anti-nazismo no grupo), ou mesmo sendo personagem de HQ para o asqueroso e brilhante quadrinista Marcatti. Agora, com este ataque sonoro, o poeta simplesmente põe no chinelo as “canções de bom gosto” com “letras bem sacadas” dos “novos talentos da MPB”, ainda por cima usando apenas sonetos (!) musicados por variados artistas. Ou seja, “música civilizada e informação relevante” não tem vez aqui, com faixas contendo uma verve muito mais visceral e inteligente. Não por acaso, o disco faz menção direta a uma época em que a música brasileira era muito mais instigante sem preocupações comerciais, ou seja, o Tropicalismo: o movimento de “Caetano, Gil, Mutantes, pão e circo” está tanto na capa (que parodia o disco-manifesto “Tropicália”, feita pelo ótimo desenhista Lourenço Mutarelli), como na primeira faixa, Tropicalista, em que Tato Ficher transforma genialmente um soneto em samba enredo. “Criou-se como não se cria nada / Valia tudo e tudo, então, valia”, diz a letra.
Com este aprendizado tropicalista, o inquieto Glauco seguiu seu caminho até nos brindar com este Melopéia. Como “tudo vale”, o poeta aborda com desenvoltura, escracho e força todos os temas, desde a ode a Dercy Gonçalves (feita pelos Devotos), passando pela Internet (Virtual) e pelo ao achincalhe a uma Revista (do “Engenheiro” Humberto Gessinger), e até mesmo falando de amor (Confessional). No entanto, o que pode chamar mais a atenção é a face mais bocagiana de Glauco, com as sensacionais Flatulento (de Ayrton Mugnaini) e Escatológico (dos Billy Brothers). Por mais discutíveis que sejam estes temas-títulos, é sempre bom ouvir alguém escrever tão bem sobre atos tão comuns ao ser humano e tão estranhamente renegados.
Além dos citados, quase todos ótimos, há Falcão (!), que está sensacional ao lado de Eriberto Leão, as vinhetas de DJ Krâneo, o punk dos Inocentes, e etc. A lamentar apenas um certo excesso dispensável de faixas, como as três repetições da Virtual (que está longe de ser um dos melhores sonetos) e a versão do Laranja Mecânica para Confessional, já que a do Arnaldo Antunes valia sozinha. Se não fosse por isto - que nem de perto não chega a atrapalhar o resultado final -, o disco seria uma obra-prima indiscutível. E também há quem possa se incomodar com as vinhetas tocadas em cravo antes de quase todas as músicas, mas não dá para ficar indiferente à beleza das mesmas. Escutar com urgência (P.S.: quem quiser adquirir esta jóia e não estiver encontrando, é só entrar em contato com a Rotten Records, pelo e-mail rotten@rottenrecords.com.br).(Christian Caselli)
Com este aprendizado tropicalista, o inquieto Glauco seguiu seu caminho até nos brindar com este Melopéia. Como “tudo vale”, o poeta aborda com desenvoltura, escracho e força todos os temas, desde a ode a Dercy Gonçalves (feita pelos Devotos), passando pela Internet (Virtual) e pelo ao achincalhe a uma Revista (do “Engenheiro” Humberto Gessinger), e até mesmo falando de amor (Confessional). No entanto, o que pode chamar mais a atenção é a face mais bocagiana de Glauco, com as sensacionais Flatulento (de Ayrton Mugnaini) e Escatológico (dos Billy Brothers). Por mais discutíveis que sejam estes temas-títulos, é sempre bom ouvir alguém escrever tão bem sobre atos tão comuns ao ser humano e tão estranhamente renegados.
Além dos citados, quase todos ótimos, há Falcão (!), que está sensacional ao lado de Eriberto Leão, as vinhetas de DJ Krâneo, o punk dos Inocentes, e etc. A lamentar apenas um certo excesso dispensável de faixas, como as três repetições da Virtual (que está longe de ser um dos melhores sonetos) e a versão do Laranja Mecânica para Confessional, já que a do Arnaldo Antunes valia sozinha. Se não fosse por isto - que nem de perto não chega a atrapalhar o resultado final -, o disco seria uma obra-prima indiscutível. E também há quem possa se incomodar com as vinhetas tocadas em cravo antes de quase todas as músicas, mas não dá para ficar indiferente à beleza das mesmas. Escutar com urgência (P.S.: quem quiser adquirir esta jóia e não estiver encontrando, é só entrar em contato com a Rotten Records, pelo e-mail rotten@rottenrecords.com.br).(Christian Caselli)
Faixas
1
Tropicalista
2
Preguicista
3
Confessional
4
Revista
5
Utópico (Fragmento)
6
Bélico
7
Pacifista (Versão demo)
8
Virtual (Versão demo)
9
Ensaístico
10
Utópico (Fragmento)
11
Desertado
12
Flatulento
13
Escatológico
14
Dercy Gonçalves (Versão demo)
15
Inescrupuloso (Fragmento)
16
Precípuo
17
Virtual (Versão memo)
18
Manifesto obsoneto
19
Confessional
20
Inescrupuloso (Fragmento)
21
Ao maior
22
Amélia & Emília
23
Virtual