MPB-4 E A NOVA MÚSICA BRASILEIRA
MPB-4 (2000)
Crítica
Cotação:
Formado no começo dos 60 no CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE, que congregava estudantes e intelectuais de esquerda, o MPB-4 cutucou a ditadura com vara curta nas trincheiras da arte. Depois, teve jogo de cintura para escapar das armadilhas do maniqueísmo e sobreviver à reabertura das comportas. Mas ficou sitiado no tempo pela ruptura do eixo principal de sua corrente com a erupção (espontânea) do BRock dos anos 80 e a emersão (a poder de jabá) do brega nos sabores sertanejo, pagode e axé. Este disco promove um acerto de ponteiros do longevo quarteto vocal com autores da que seria uma MPB contemporânea. A opção é curiosa porque o grupo poderia ter seguido uma linha de continuadores do ramal tradicional como Guinga, Celso Viáfora, Jorge Simas & Paulo Cesar Feital ou Mário Adnet, para citar parcos exemplos. Mas, com exceção do sambista Dudu Nobre, jovem continuador do pagode de raiz, o MPB-4 optou por uma safra de autores mais contaminada pelo pop, incluindo um remanescente do BRock, o titã Nando Reis em sua fase baladeira (Onde Você Mora, parceria com Marisa Monte e Resposta, com Samuel Rosa, do Skank), além de cantoras/autoras à parte mas em sintonia com o movimento como Adriana Calcanhotto (Mentiras) e Zélia Duncan (Não Vá Embora, com Christiaan Oyens). Evitando o mico de virar roqueiros pós-maduros, Ruy, Aquiles, Magro e Miltinho pegaram leve: preferiram as canções, e no caso do hit da Calcanhotto engataram até um palatável samba lento.
Para guiá-los na acidentada travessia, eles convocaram o experiente modernista Jairzinho Oliveira, responsável pela produção, arranjos de base, violões, teclados e programação em eventuais trocas de posições com Max de Castro — de resto, ambos filhos de dois colegas do grupo dos tempos da MPB no poder, respectivamente Jair Rodrigues e Wilson Simonal. A despeito de tantas precauções nem tudo suinga bem, como no partido Posso Até me Apaixonar, de Dudu Nobre, que ficou um pouco travado ritmicamente. Ou no reggae Presente de um Beija-flor (Alexandre Carlos Cruz), sucesso medíocre do grupo brasiliense Nativus (atual Natiruts) que nem Max de Castro conseguiu incrementar, mesmo assinando violão, teclados, programação e arranjo de base. Utilizando vozes solistas contrastando com a dissonância dos ensembles, uma marca característica, o quarteto singra bem as composições da turma básica da MPop do B como Chico Cesar (o xote quase drum’n’bass À Primeira Vista), Zeca Baleiro (a balada ganchuda Lenha), Lenine (a dialética Paciência, com Dudu Falcão) e Paulinho Moska (a assisvalentiana O Último Dia). Sobra até um cantinho para a anódina balada Primavera, dos roqueiros Los Hermanos, aqueles da sovada Anna Julia e uma piscadela para o neo-cubanismo incitado pelo disco/filme Buena Vista Social Club em Eu Sou a Árvore (Y tu que hás hecho?(El tronco del arbol)), versão e participação vocal luxuosa de Chico Buarque. Nenhum arrivismo: esta tem muito mais a ver com o passado do grupo. Meio pisando em ovos, o sessentista MPB-4 desembarca num 2001 ainda com aroma de anos 90. Mas, sem atropelos, eles chegam cá. (Tárik de Souza)
Para guiá-los na acidentada travessia, eles convocaram o experiente modernista Jairzinho Oliveira, responsável pela produção, arranjos de base, violões, teclados e programação em eventuais trocas de posições com Max de Castro — de resto, ambos filhos de dois colegas do grupo dos tempos da MPB no poder, respectivamente Jair Rodrigues e Wilson Simonal. A despeito de tantas precauções nem tudo suinga bem, como no partido Posso Até me Apaixonar, de Dudu Nobre, que ficou um pouco travado ritmicamente. Ou no reggae Presente de um Beija-flor (Alexandre Carlos Cruz), sucesso medíocre do grupo brasiliense Nativus (atual Natiruts) que nem Max de Castro conseguiu incrementar, mesmo assinando violão, teclados, programação e arranjo de base. Utilizando vozes solistas contrastando com a dissonância dos ensembles, uma marca característica, o quarteto singra bem as composições da turma básica da MPop do B como Chico Cesar (o xote quase drum’n’bass À Primeira Vista), Zeca Baleiro (a balada ganchuda Lenha), Lenine (a dialética Paciência, com Dudu Falcão) e Paulinho Moska (a assisvalentiana O Último Dia). Sobra até um cantinho para a anódina balada Primavera, dos roqueiros Los Hermanos, aqueles da sovada Anna Julia e uma piscadela para o neo-cubanismo incitado pelo disco/filme Buena Vista Social Club em Eu Sou a Árvore (Y tu que hás hecho?(El tronco del arbol)), versão e participação vocal luxuosa de Chico Buarque. Nenhum arrivismo: esta tem muito mais a ver com o passado do grupo. Meio pisando em ovos, o sessentista MPB-4 desembarca num 2001 ainda com aroma de anos 90. Mas, sem atropelos, eles chegam cá. (Tárik de Souza)
Faixas