MTV AO VIVO IRA!
Ira! (2000)
Crítica
Cotação:
Tal qual Lulu Santos, que reuniu 18 anos de mestria pop em seu Acústico, o Ira! adiou até onde pôde a gravação de um álbum ao vivo. Daí que o 10º disco de sua não tão regular mas sempre íntegra carreira de quase 20 anos acabou sendo um dos melhores o melhor de que podemos encontrar por aí. A voz de Nasi pode hoje estar roufenha e as novas músicas sem o frescor daquelas do disco de estréia, Mudança de Comportamento (1985). Mas a capacidade do Ira! de emocionar, essa continua intacta. Edgard Scandurra segue como um dos fabulosos guitarristas do Rock Brasil e a base de Ricardo Gaspa (baixo) e André Jung (bateria) ainda pulsa, vital. O repertório se concentra nos dois primeiros discos. De Mudança, um dos melhores e mais pungentes álbuns da história do rock brasileiro vêm a bela faixa-título, Núcleo Base (que encerra em grande estilo o disco, gravado dia 1º de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo), Longe de Tudo, Como os Ponteiros de um Relógio, Tolices (em versão folk, com violões) e a punk Coração. Do segundo, Vivendo e Não Aprendendo (86), comparecem Envelheço na Cidade, Dias de Luta, a funkeada Vitrine Viva (com solo de plugue de guitarra!), Dias de Luta e a dobradinha Pobre Paulista-Gritos na Multidão, lançadas anos antes, no primeiro compacto. São retratos de uma banda criada na urgência do rock de um The Jam, mas que soube aos poucos forjar sua identidade. Do terceiro (e para alguns, melhor) álbum do Ira!, Psicoacústica (88), veio a esquecida canção Receita para se Fazer um Herói, que vem com solo de teclados do convidado Johnny Boy. Outras boas surpresas foram Um Dia Como Hoje, do disco Meninos da Rua Paulo (91), e É Assim Que Me Querem, de 7, CD de 96 – boas canções que não tiveram a exposição de mídia que mereciam. Entre as inéditas do Ao Vivo, merece destaque Inundação de Amor que, a despeito da base eletrônica do DJ Ramilson Maia, é um daqueles bons rock do Ira! – uma banda que passou por revezes, modas, drogas e inclinações musicais diversas, mas sempre foi fiel aos seus princípios estéticos e principalmente éticos. MTV Ao Vivo restitui a esses velhos guerreiros a glória que nunca os deveria ter abandonado. Mas agora, depois de um disco de versões (Isso é Amor, de 99) e deste, torcemos para que os paulistanos tenham a oportunidade de fazer um CD de inéditas e assim pôr em desfile a sua bela maturidade roqueira.(Silvio Essinger)
Faixas