MUSIKANERVOSA
Kafka (2000)
Crítica
Cotação:
Banda pouco conhecida do rock brasileiro dos anos 80, o Kafka entra enfim na era do CD com o relançamento num só disquinho de seus dois LPs, Musikanervosa (1987) e Obra dos Sonhos (1989). Ouvidos hoje, esses trabalhos não conseguem disfarçar um certo cheiro de mofo (referências sonoras – inglesas, principalmente – muito datadas), mas remetem a uma época em que o rock no Brasil era bem menos unidimensional do que hoje. O primeiro disco traz uma ousada e bem conduzida mistura de psicodelismo com toques góticos, orientais e jazzísticos (este, o fio puxado pelo sax de Renato Mello), com letras cheias de referência literárias (a música Gregor, é claro, é baseada em A Metamorfose, do Franz padrinho Kafka), às vezes pecando pelos exageros. Destacam-se em Musikanervosa o hit Temerário Lua (Ente Um) (em que o vocal de Abrão Levin lembra bastante o de Guilherme Arantes), Valsa do Medo (bem Cocteau Twins) e As Tribos da Noite (com a inconfundível guitarra glissando de Fábio Golfetti, do Violeta de Outono). Com outro saxofonista (Edgar Chermont), um percussionista (Don Dimas) e um tecladista (Gerson Suria), o Kafka voltou mais sujo, suingado e sofisticado em Obra dos Sonhos, disco que vale por faixas como a bonita Plenitude e a francamente jazzística Eu e Eu. Infelizmente, as letras ficaram mais rasas, como se pode conferir em Quarto Mundo: "Eu assisto ao Grammy, queimo a TV/ Eu não quero Oscar, quero você". O CD vem com uma inédita versão ao vivo de Tribos da Noite como faixa extra.
(Silvio Essinger)