NA HUMILDADE

Nega Gizza / MV Bill / Instituto (2002)

2002
Zâmbia/Dum Dum Records
Crítica

Cotação:

Nega Gizza, a irmã de MV Bill, não é apenas um correlato feminino do furibundo rapper carioca. Como Bill, ela não tem papas na língua (já vai dando nome aos "bois" ACM e Sarney logo na primeira faixa, Filme de Terror). Mas ela exibe um jogo de cintura e uma riqueza musical maior do que a de seu brother. Não exatamente por seu estilo de rapear, que pouco varia além do mostrado no contundente cartão de visitas Prostituta; e sim por saber se colocar nas mãos dos produtores certos. Zégonz, Ganja Man e Dudu Marote providenciaram um bem-urdido fundo musical para que Gizza soltasse o verbo. Conseguiram então uma (virtual) raridade: um disco de hip hop brasileiro no qual a força dos versos se equilibra com a parte musical. Intervenções eletrônicas na medida exata misturados a instrumentos de verdade, scratches e, acima de tudo, uma disposição de variar climas e ambiências a cada faixa. Viesse com vocais em inglês, passaria fácil por um chique trip hop, ou algo saído da nova escola rhythm'n'blues - dada a fluência com a qual Gizza apropria-se de diversas influências da música negra de ontem e hoje, mescladas a um hip hop injetado de melancolia. Basta prestar atenção às letras, muitas delas autobiográficas, para sacar a dureza que foi e ainda é a vida da rapper, criada na Cidade de Deus. Toda a melancolia - e revolta - ainda é pouca.

O disco começa seco, batidas estaladas, arranjos econômicos. Gizza vai convencendo a princípio pela força de seus versos, em faixas como Depressão e Larga o Bicho. Mas à medida que o molejo vai aumentando, e a riqueza sonora também, tudo fica mais envolvente. O funkinho com molejo de A Verdade que Liberta (composta por Bill, com alto potencial radiofônico) é só o primeiro exemplo. A dançante Inconstante, mixada pelo malandro Rica Amabis, segue no mesmo estilo. Tudo preparando para as ótimas faixas do fim do álbum, carregadas de influências do r'n'b moderno. Violões, piano Rhodes e um vocal (cantado, melodioso) cheio de soul temperam Brilho Perfeito. Original também respira plena do espírito black setentista, com Gizza cantando de novo, e bem. E Fiel Bailarino é prova da capacidade de usar a reciclagem sonora para criar refrões instantaneamente memoráveis. No meio disso tudo, Prostituta ainda é um dos destaques - por sorte, Nega Gizza não se limitou a criar várias cópias da música que a lançou para encher seu álbum.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
Ouvir todas em sequência
1 Filme de terror Ouvir
(Nega Gizza)
2 Depressão Ouvir
(Nega Gizza)
3 Larga o bicho Ouvir
(Ieda Hills, Nega Gizza)
4 A verdade que liberta Ouvir
(MV Bill)
5 Prostituta Ouvir
(Nega Gizza)
6 Caminhada 1 Ouvir
(Nega Gizza)
7 Neném Ouvir
(Nega Gizza)
8 Inconstante Ouvir
(Nega Gizza)
9 Brilho perfeito Ouvir
(Nega Gizza)
10 Caminhada 2 Ouvir
(Nega Gizza)
11 Fiel bailarino Ouvir
(MV Bill, Nega Gizza)
12 Original Ouvir
(MV Bill, Nega Gizza)
 
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