NÁ OZZETTI

Lançado originalmente pela gravadora Continental, em 1988, ainda no formato LP, o álbum de estréia da cantora paulista conserva todo seu brilho frente à ação do tempo. O primeiro vôo solo da então vocalista do grupo Rumo já antecipava a direção que veio a seguir na carreira individual. A começar pelo repertório, com destaque para canções de Itamar Assumpção (o funk Cardápio Barra Pesada, com música de Paulo LePetit), Dante Ozzetti (a agridoce Diva) e José Miguel Wisnik (o samba-exaltação Sócrates Brasileiro, além das belíssimas Libra, A Olhos Nus e Orfeu), que acabaram se tornando parceiros da compositora Ná Ozzetti, revelada só nos anos 90. Mesmo que apenas uma canção de Luiz Tatit (a bem-humorada e metalingüística Ah!) apareça entre as 11 gravadas, a marca musical do grupo Rumo também está presente em outras instâncias, seja no jeito falado de cantar as antigas No Rancho Fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo) e Dio Come Ti Amo (Domenico Modugno), ou nas presenças de Paulo Tatit (guitarra e arranjo), Akira Ueno (baixo), Gal Oppido (percussão e fotos), Pedro Mourão (percussão) e Hélio Ziskind (arranjos). Não deixa de ser irônica a constatação de que uma ótima canção como Nós (de Tião Carvalho, da banda Mafuá) só tenha virado sucesso anos depois, com a gravação de Cássia Eller. Por essa e outras, a inovadora versão de Sua Estupidez (Roberto e Erasmo Carlos), que abre o primeiro disco de Ná, soa hoje quase visionária. Parece sugerir que a estupidez que dominou o mercado musical ao longo dos anos 90 não permitiu que Ná Ozzetti desfrutasse ainda o sucesso que sua voz original também merece.(Carlos Calado)