NA PISTA

Cláudio Zoli é um dos heróis não-celebrados da música negra brasileira. Nada mais justo que agora, quando mais de uma geração está se dando bem repisando seus passos, ele venha tirar uma casquinha também, né? Justo pode ser, mas seria mais legal se Zoli viesse com músicas e idéias novas. Na Pista traz o mesmíssimo CZ de sempre, desbravando o soul made in Brazil legado por Tim Maia e Cassiano, investindo em (tentativas de) modernização. Para gravar este disco - basicamente uma compilação de músicas suas que fizeram sucesso com outros artistas - Zoli fechou com o parceiro Fábio Fonseca uma embalagem sonora econômica, feita de timbres batidos e com um suingue eficaz, mas sem vitalidade. Funciona? Sim, porque há algumas músicas realmente boas no pacote. E também porque Zoli garante a si mesmo a vantagem suprema da coerência - ele não virou samba-rock, não fez remix drum'n'bass nem apelou ao Max de Castro. Acontece que, depois de tantos discos (da mesma gravadora Trama) fundamentados neste mesmo tipo de som (Pedro Mariano, Daniel Carlomagno, etc.), Zoli 2001 soa quase como repeteco. Só cantando músicas antigas, então...

Mesmo batidas, Noite do Prazer (sucesso primordial de Zoli, ainda com o grupo Brylho), À Francesa e Cada Um Cada Um destacam-se no pacote, mais pela qualidade das composições do que pelo brilho específico das regravações. A simpática Flor do Futuro (hit menor com Pedro Mariano) ganha um suingue diferente, mais sacolejante. Tirando essas, não há mais muito o que se relevar no disco - correto, balançado, mas não exatamente inspirado. Momentos menos espertos do Zoli compositor (Amor Demais, Férias) passam quase batidos. E a essa altura do campeonato, regravar o clichezão de Tim Maia Gostava Tanto de Você não acrescenta nada ao disco. Para os fãs da turma dos Artistas Reunidos, o álbum do "patrono" pode ter interesse especial. Mas creio que só para eles.(Marco Antonio Barbosa)