NINGUÉM PODE CALAR
Alzira Espíndola (2000)
Crítica
Cotação:
Como depurar, ou até mesmo modernizar, o repertório dor-de-cotovelo de Maysa, sem descaracterizá-lo? Essa é a tarefa nada fácil que a cantora Alzira Espíndola, matogrossense radicada em São Paulo, atribuiu a si mesma, em Ninguém Pode Calar. Na verdade, não é tanto a fossa e a dramaticidade da lendária intérprete que interessam a Alzira, mas sim a compositora. Do songbook de Maysa, ela escolheu nove canções. As outras três que completam o repertório desse CD parecem ter sido escolhidas por afinidade temática: Bom Dia Tristeza (de Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes), Quem Quiser Encontrar o Amor (Carlos Lyra e Geraldo Vandré) e Chão de Estrelas (Silvio Caldas e Orestes Barbosa), que entra apenas como uma breve vinheta. Deixando para trás os grandiloqüentes arranjos orquestrais das gravações de Maysa, Alzira e seu co-produtor Luís Waack apostam na simplicidade sonora de violões (tocados por ambos) e baixo (Paulo Lepetit; Mintcho Garramone), colorindo-a com aparições eventuais de percussões (Simone Soul; Ricardo Garcia), saxofone (Maurício Pereira) e violoncelo (Mário Manga). Os sambas-canções e ritmos abolerados também foram abandonados, dando lugar até a um apropriado blues-rock na deliciosa recriação de Meu Mundo Caiu, a um sensível folk em Adeus, ou a uma balada jazzística em Felicidade Infeliz. Mas o que define de verdade essas releituras é a voz delicada de Alzira, que troca a gravidade fossenta de Maysa por um certo distanciamento interpretativo, que empresta à dramaticidade carregada das letras dessas canções um sabor mais agridoce e leve. Afinal, já não estamos mais nos anos 50.(Carlos Calado)
Faixas
5
Vinheta