NOITES DO NORTE AO VIVO
Caetano Veloso (2001)
Crítica
Cotação:
Não chega a ser surpresa o fato de o incensado show Noites do Norte ter rendido um álbum ao vivo - o quarto registro do tipo que Caetano Veloso lança em menos de dez anos. O que surpreende mais é o formato do trabalho, uma exaustiva recuperação do espetáculo em seu formato integral (dando mais de duas horas de audição, em um CD duplo). Se a intenção de Caetano era fazer com que o ouvinte "carregasse para casa" seu show, o tiro pode ter saído pela culatra. Noites do Norte ao Vivo no palco era uma coisa; em disco é outra bem diferente. Caê logrou elogios unânimes com o show, por suas reconstruções sonoras, pela unidade teórica dada pelos textos de Joaquim Nabuco, por suas ousadas posturas cênicas. No disco isso tudo se dilui, e o que há de novidade (os novos arranjos para canções antigas, às vezes bem radicais) soa quase indigesto às vezes. Moral da história: polaróide de um espetáculo que marcou época na carreira do compositor, o CD duplo parece "desbotado", sem a vivacidade que impressionou tanta gente.
Isso é verdade especialmente em relação ao primeiro disco, com 16 faixas enfileiradas de arranjos ultra-econômicos (quase secos), movidos pelo violão e voz de Caetano, a presença do cello de Jaques Morelembaum e uma ou outra guitarra. As músicas se sucedem num tom lúgubre, chegando ao ápice em Haiti. As coisas se animam um pouco quando Caetano se aproxima do pop (O Último Romântico, Como uma Onda) ou soa mais lúdico (Cobra Coral), quebrando a soturnidade. É interessante reouvir algumas pérolas esquecidas do repertório do baiano (Araçá Blue, Two Naira Fifty Kobo), mas não dá para dizer o mesmo da caricatural Rock'n'Raul. O segundo álbum funciona melhor, investindo num repertório mais leve e suingado, com uma participação maior dos músicos. Caetano já começa desarmando o ouvinte ao emendar o funk Tapinha em Dom de Iludir, a sobriedade contrastando com a galhofa. Essa surpresa não é a única da segunda metade do álbum. Em Caminhos Cruzados, Caetano joga a bossa nova no Candeal, com um arranjo que privilegia a percussão; novas aproximações com a bossa, cheia de frescor, vêm em Samba de Verão e Eu e A Brisa. Ele reencontra-se com o pop, mas sem forçar, com Língua; recria com precisão, sem excessos algumas de suas melhores composições (Cajuína, Trem das Cores, Tigresa, Tropicália) e resgata das garras de Cássia Eller a ótima Gatas Extraordinárias.(Marco Antonio Barbosa)
Isso é verdade especialmente em relação ao primeiro disco, com 16 faixas enfileiradas de arranjos ultra-econômicos (quase secos), movidos pelo violão e voz de Caetano, a presença do cello de Jaques Morelembaum e uma ou outra guitarra. As músicas se sucedem num tom lúgubre, chegando ao ápice em Haiti. As coisas se animam um pouco quando Caetano se aproxima do pop (O Último Romântico, Como uma Onda) ou soa mais lúdico (Cobra Coral), quebrando a soturnidade. É interessante reouvir algumas pérolas esquecidas do repertório do baiano (Araçá Blue, Two Naira Fifty Kobo), mas não dá para dizer o mesmo da caricatural Rock'n'Raul. O segundo álbum funciona melhor, investindo num repertório mais leve e suingado, com uma participação maior dos músicos. Caetano já começa desarmando o ouvinte ao emendar o funk Tapinha em Dom de Iludir, a sobriedade contrastando com a galhofa. Essa surpresa não é a única da segunda metade do álbum. Em Caminhos Cruzados, Caetano joga a bossa nova no Candeal, com um arranjo que privilegia a percussão; novas aproximações com a bossa, cheia de frescor, vêm em Samba de Verão e Eu e A Brisa. Ele reencontra-se com o pop, mas sem forçar, com Língua; recria com precisão, sem excessos algumas de suas melhores composições (Cajuína, Trem das Cores, Tigresa, Tropicália) e resgata das garras de Cássia Eller a ótima Gatas Extraordinárias.(Marco Antonio Barbosa)
Faixas
DISCO 1
Música de Caetano Veloso sobre texto de Joaquim Nabuco
Música de Caetano Veloso sobre texto de Waly Salomão
DISCO 2
Citação de "Tapinha", composta por Naldinho
Citação de "Parabéns a você" ("Happy birthday to you") composta por Mildred J. Hill e Patty S. Hill