NOITES DO NORTE
Caetano Veloso (2000)
Crítica
Cotação:
Eis a boa notícia para quem andava pelos cantos até hoje, tristonho, à espera de um sucessor para Estrangeiro e Circuladô: no fim do milênio, a novidade voltou a freqüentar o terreiro de Caetano Veloso. Em Noites do Norte, ele achou um conjunto de idéias muito interessante para nortear parte das canções. A permanência da escravidão como a característica nacional do país, profetizada em livro por Joaquim Nabuco no começo do século, abre para Caetano um vasto leque de discussões, que se desenrolam em algumas das melhores faixas do CD, como a própria Noites do Norte (texto de Nabuco genialmente musicado), 13 de Maio (com seu inusitado mas fluente jogo de compassos, cortesia do filho Moreno) e a lírica releitura de Zumbi, aguerrida música de Jorge Ben Jor que antecipou de Nação Zumbi a Soulfly. No entanto, mais do que essa fértil unidade temática do bloco inicial do disco, o que realmente faz Noites do Norte valer a pena é a sonoridade que Caetano achou, diferente de qualquer de seus outros discos. A faixa de abertura, a bela Zera a Reza, não poderia ter sido melhor: o encontro do violão e voz com a ótima bateria de Cleber Sena (do AfroReggae), surdos virados, órgão Hammond e guitarra incidental é de uma felicidade impressionante - algo que Caetano parecia almejar em Livro e só aqui, autoproduzido, conseguiu concretizar. Rock'n'Raul e Ia, faixas que têm a participação dos mulheres q dizem sim Pedro Sá (guitarra e baixo) e Domenico Lancelotti (bateria), atualizam o som de Caetano para bem à frente de Arto Lindsay, sem no entanto macaquear nada de fora - algo que certamente fascinará ouvidos estrangeiros, cada vez mais interessados no que anda fazendo esse tropicalista. Com letras que vão do puro jogo de linguagem (Cantiga do Boi), à descompromissada expressão de uma saudade (Meu Rio, com um lamento em forma de cavaquinho tocado por Dudu Nobre), passando por uma dura queixa de amor, no estilo de velhos sambas (Tempestades Solares), Caetano renova o zelo por seu patrimônio poético. Mas são os sons que brilham nas Noites do Norte.(Silvio Essinger)
Faixas