NOS BARES DA VIDA - AO VIVO
Alcione (2000)
Crítica
Cotação:
Até que enfim, Alcione nos brinda com um CD à altura de sua voz – Nos Bares da Vida. Desde Profissão Cantora (1995) que ela estava nos devendo um disco com repertório mais arrojado. É claro que em Tempo de Guarnicê (1996) havia canções interessantes como Overjoyed, que no álbum Celebração (1998) havia curiosos duetos com Bethânia, Sandra de Sá e Cássia Eller e que o tributo à sua amiga Clara Nunes, Claridade, do ano passado, era honesto. Mas, no conjunto, esses discos eram apenas bons. Agora, ela resolveu resgatar um repertório do tempo em que cantava na noite carioca, no início dos anos 70, com alguns acréscimos de canções mais recentes, porém mantendo o mesmo clima de piano bar proposto no título. O instrumento predominante no CD, contudo, não é o piano e sim o bom e tradicional violão – talvez o mais representativo para enfocar um repertório de clássicos (românticos) da MPB – e a missão foi entregue ao tarimbado João Lyra. Há também eventuais canjas de figurões da MPB – ótima idéia, pois só de vermos a cantora sem ter que competir com uma banda de 12 músicos no palco, como costuma fazer em seus shows, e cantando em tons mais confortáveis (mais baixos) já é um alívio. O repertório é um passeio por standards do samba-canção dos anos 50, passando pela bossa nova e terminando no bom samba de intérpretes revelados nos anos 70 e 80, como João Nogueira e Jorge Aragão. No time cinqüentista, há sucessos celebrizados pelas divas Dalva de Oliveira (Tudo Acabado e Neste Mesmo Lugar), Nora Ney (Bar da Noite), Elizeth Cardoso (Nossos Momentos), Dolores Duran (A Noite do Meu Bem), Doris Monteiro e Ângela Maria (ambas gravaram Amendoim Torradinho, do compositor bissexto Henrique Beltrão – e não da dupla de autores atribuída no encarte do CD). Nessas, a Marrom dá conta do recado, embora seja sempre melhor quando canta melodias em que possa soltar sua veia gingada e seus improvisos. Pois Alcione é o tipo de intérprete que, quando a melodia permite, sempre descobre uma nuance nunca dantes imaginada nas canções que entoa. É o que se ouve em suas versões levemente jazzísticas, com sua divisão ímpar, para Ilusão à Toa (Johnny Alf), O Poder da Criação (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), Última Forma (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), Pelo Cansaço (Fátima Guedes), Pra Machucar Meu Coração (Ary Barroso), Mel na Boca (sucesso de Almir Guineto) ou na dobradinha regional com Lamento Sertanejo (Dominguinhos e Gil) e Pisa na Fulô (do conterrâneo João do Vale). Outros pontos altos do CD são o samba menos manjado, Papel de Pão (sucesso de Jorge Aragão), um delicioso pot-pourri de sambas clássicos dos anos 50 e sua versão original para a eterna balada Olha, de Roberto e Erasmo Carlos (dupla gravada por ela pela primeira vez). As surradas Ronda e Carinhoso completam o repertório com interpretações pessoais. Não comprometem. Fica a sugestão para que Alcione possa fazer um volume dois apenas com canções modernas, mais suingadas, e eventualmente fora da MPB, a exemplo do que realizou há tempos em temporadas em boates chiques da Zona Sul carioca quando cantou até I Will Survive, hit de Gloria Gaynor, além de sambas-jazz de Djavan (Aquele Um) e João Bosco (Coisa Feita) e Virgem, de Marina e Antonio Cícero. Já pensou?
(Rodrigo Faour)
Faixas
5
Neste mesmo lugar
7
Pot-Pourri
Não me diga adeus (Paquito-Luiz Soberano-João Correia da Silva)
Pois é (Ataulfo Alves)
Obsessão (Milton de Oliveira-Mirabor)
A flor e o espinho (Nelson Cavaquinho-Alcides Caminha-Guilherme de Brito)
Me deixe em paz (Monsueto-Ayrton Amorim)
Pois é (Ataulfo Alves)
Obsessão (Milton de Oliveira-Mirabor)
A flor e o espinho (Nelson Cavaquinho-Alcides Caminha-Guilherme de Brito)
Me deixe em paz (Monsueto-Ayrton Amorim)
Pisa na fulô (João do Valle-Ernesto Pires-Silveira Jr.)