NOVELAS

Djavan é noveleiro mesmo, sem ofensa. O cantor e compositor alagoano já emplacou várias canções suas em trilhas de telenovelas da Rede Globo - e sem dúvida deve boa parte de seu sucesso à tremenda exposição proporcionada pelos folhetins globais. Nada mais justo que a Som Livre resolva homenageá-lo com uma coletânea chamada... Novelas, repleta de grandes sucessos televisivos do cantor. Para os completistas, o CD acena com duas músicas (Rei do Mar e É Hora) que nunca foram editadas nos discos oficiais de Djavan.

Vinte e quatro anos da carreira de Djavan (de 1974 a 1998) estão resumidos no álbum, da hoje meio esquecida Qual É, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle - esta é da época em que as novelas tinham trilhas mesmo, compostas seguindo um tema e uma organização interna - até a regravação de Meu Bem Querer, para a novela do mesmo nome. (Aliás, a nova versão ficou bem mais molenga e adocicada que a original de 1980.) É claro que em se tratando quase de um greatest hits de um grande talento como Djavan, o nível geral das composições é bem alto. Sucessos como Oceano, Mal de Mim, Outono ou Dou não Dou dispensam maiores comentários - mas também podem ser obtidos em n coletâneas similares. Mais interessante é espiar nas entrelinhas coisas como Alegre Menina, belíssima canção de Jorge Amado e Dori Caymmi, gravada para a novela Gabriela, em 1975, ou a singela recriação de Sorri (Smile), versão de Braguinha para o clássico de Charles Chaplin. Das "quase-novidades", é curioso ouvir Rei do Mar, bem distante do estilo de harmonia/melodia ultrapessoal que o compositor veio desenvolvendo com os anos - mais para um romantismo quase robertocarleano. Em É Hora, já temos um Djavan "arquetípico", num sambinha com letra com vagas preocupações sociais. (Marco Antonio Barbosa)